quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Sorria - Sorriso Não Resplandecente

Sorria | Paramount Pictures


Após um paciente cometer um suicídio brutal em sua frente, a psiquiatra Rose é perseguida por uma entidade maligna que muda de forma. Enquanto tenta escapar desse pesadelo, Rose também precisa enfrentar seu passado conturbado para sobreviver.

 O longa-metragem é uma obra de terror psicológico dirigida por Parker Finn, cineasta também responsável pelo curta-metragem que originou o filme. A narrativa se aprofunda em temas complexos como trauma, culpa e desespero, levando o espectador a uma jornada de crescente angústia e reflexão. A trama gira em torno de Rose, que, ao ser confrontada por eventos perturbadores, começa a perder a distinção entre realidade e alucinação, mergulhando progressivamente em uma espiral de paranoia e medo inescapável. O filme se destaca por sua habilidade em evocar uma sensação de claustrofobia emocional, explorando como experiências traumáticas podem corroer a sanidade e a percepção da realidade. A direção de Finn é eficaz em criar uma atmosfera opressiva, onde a tensão se acumula gradualmente, refletindo a desintegração mental da protagonista.

 Os sorrisos do filme são profundamente perturbadores por sua estranheza desconcertante e natureza antinatural. O que deveria ser uma expressão de alegria e conforto é transformado em algo sinistro e ameaçador. Esses sorrisos são amplos, rígidos e fixos, criando uma sensação de que algo está muito errado. A forma como os personagens, sob a influência da entidade, mantém o sorriso enquanto seus olhos permanecem frios ou apáticos, gera uma dissonância aterrorizante, como se a expressão fosse uma máscara distorcida.

 A trilha sonora e o design de som desempenham um papel crucial na experiência do filme, com sons sutis e cuidadosamente elaborados que intensificam a sensação de perigo iminente e amplificam o clima de tensão. A utilização de ruídos inesperados e a manipulação de silêncios criam uma atmosfera inquietante, mantendo o espectador em constante estado de alerta. Esses elementos sonoros não apenas complementam a narrativa, mas também se tornam uma extensão da psicologia da protagonista, refletindo sua deterioração mental.

 Sosie Bacon, no papel principal como a Dra. Rose Cotter, oferece uma performance intensa e convincente, capturando com precisão o desespero e a deterioração mental de sua personagem à medida que a entidade sobrenatural a assombra. Ela transmite de forma eficaz a crescente paranoia e o isolamento de Rose, tornando a descida dela ao terror e à loucura crível e emocionalmente ressonante. Seus olhares perdidos, expressões de pânico contido e a vulnerabilidade em momentos de silêncio contribuem para criar uma conexão profunda com o público.

 O ponto negativo é o desenvolvimento raso de certos personagens e relações. A protagonista, Rose, é bem explorada, mas os coadjuvantes, incluindo o interesse amoroso e outros colegas de trabalho, são pouco desenvolvidos, servindo apenas como suporte para os conflitos internos da protagonista ou para impulsionar a trama. Isso resulta em um elenco que não contribui de forma significativa para a complexidade emocional do filme. Além disso, o filme se estende demais, tornando-se cansativo em sua segunda metade. O simbolismo relacionado ao trauma, que é central na trama, embora interessante, é tratado de forma superficial. A ideia de que a entidade maligna se alimenta do sofrimento humano poderia ser mais explorada, com uma abordagem mais profunda e sofisticada. O resultado é uma trama que parece prometer mais do que entrega, ficando presa a uma estrutura genérica e previsível. O filme pode ser criticado por sua dependência de clichês do gênero, o que pode diminuir o impacto de algumas de suas reviravoltas.

Sorria é um terror psicológico que mergulha o espectador em uma atmosfera densa, abordando de forma impactante temas como trauma e culpa, enquanto acompanha a inquietante jornada de deterioração mental da protagonista. Porém, a narrativa se alonga desnecessariamente, tornando a segunda metade repetitiva, com sustos previsíveis que diminuem a tensão e enfraquecem o impacto do medo. Ainda assim, Sorria deixa uma marca inquietante, ecoando suas mensagens sobre trauma e sanidade.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Lispectorante – A salvação é pelo risco

Lispectorante | Aroma Filmes

 

Participante da Premiére Brasil do 26º Festival do Rio, Lispectorante conta a história de Glória, uma artista plástica desempregada que passa por um momento de crise existencial em sua vida, e se apoia nas obras de Clarice Lispector, assim como uma nova amizade e romance com o andarilho Guitar, como um mecanismo de fuga da sua nova realidade opressora e desinteressante.

A obra traz à tona um sentimento de retorno da ideia de cinema de atrações, onde o espetáculo e as conquistas criativas visuais são mais importantes e mais evidentes do que qualquer sentido de contexto e da história em si, percepção que se sustenta também pela escolha de grading que destaca o vermelho, azul e verde, primeiras cores do cinema e muito usadas como deslumbre visual na época.  A direção de Renata Pinheiro é ousada e criativa, onde ao retratar a imaginação da personagem Glória, não tem medo de criar ambientes fantásticos e usar recursos visuais de iluminação que não são vistos normalmente no cinema brasileiro, se destacando nesse sentido. 

Os pontos altos do filme são a interpretação de Marcélia Cartaxo, que entrega a personagem Glória com paixão e profundidade, se mostrando extremamente carismática e única, e as sequências de sonho protagonizadas por Grace Passô, alter-ego fictício interno de Glória, que ilustram ludicamente os eventos vividos por ela no decorrer de sua história, em um cenário de uma banca de jornal remanescente em um Brasil apocalíptico, que de acordo com relatos da própria diretora se inspira nos eventos e sentimentos trazidos pela pandemia global de Covid-19.

Porém os pontos altos não são capazes de se manterem de pé sozinhos, com um roteiro que mal explora as próprias possibilidades, e tenta contar diversas histórias ao mesmo tempo, sem nunca se preocupar em concluir nenhuma, quase como se existissem muitas ideias e objetivos que os autores queria trazer para o filme, mas não foram capazes de abrir mão de algumas delas em prol de uma boa e instigante narrativa.

Em determinado momento, Guitar, também muito bem interpretado por Pedro Wagner, diz que ele e seus amigos tinham uma banda chamada “Lispectorante”, na qual as letras de suas músicas eram apenas os textos de Clarice Lispector traduzidas para uma língua estrangeira, depois para outra, para então ser retraduzida para o português e ver que tipo de resultado tal brincadeira traria, resultando em um monte de palavras desconexas, mas que, de alguma forma, funcionava. Tal momento consegue metalinguisticamente descrever o resultado do filme em si, que funciona, contendo seu começo meio e fim, mas que ao tentar ser muitas coisas simultaneamente, acaba por não se definir de fato.

Sendo assim, Lispectorante acaba por ser uma experiência estética corajosa e uma jornada de autoconhecimento para a protagonista, mas, ao mesmo tempo, provoca no espectador uma ambiguidade narrativa incômoda. O filme é uma obra que se propõe a ser um mosaico de sensações e interpretações, arriscando-se ao abordar a complexidade da experiência humana. Embora sua trama dispersa e inconclusiva possa causar certa frustração, também pode ser vista como uma característica que aproxima o filme das reflexões que fazemos das obras que consumimos, e nesse caso encarar que vez ou outra não são necessárias respostas claras, pois o valor da obra está na experiência sensorial e no convite à introspecção, e é através desse risco que o filme em si tenta se salvar.

Autor:


Henrique Linhales, licenciado em Cinema pela Universidade da Beira Interior - Covilhã, Portugal. Diretor e Roteirista de 6 curta-metragens com seleções e premiações internacionais. Eterno pesquisador e amante do cinema.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

O Dia da Posse - Política e Imagem

O Dia da Posse | Embaúba Filmes

A trajetória de Brendo, que aspira à presidência do Brasil, revela uma juventude marcada pela ambição superficial e pela adaptação às dinâmicas das redes sociais. Enquanto estuda Direito e produz conteúdos para plataformas digitais, ele se projeta em um futuro de conquistas, refletindo não apenas um desejo de notoriedade, mas também a influência nociva de uma cultura de celebridade que prioriza a imagem em detrimento da substância. Essa idealização de liderança, exacerbada durante a pandemia por meio do entretenimento massivo, levanta questões inquietantes sobre a superficialidade dos valores que moldam os líderes da nova geração e sobre a capacidade real desses indivíduos de enfrentar os complexos desafios do país.

O documentário se desenvolve no contexto da pandemia da COVID-19, especificamente em 2020, quando a população foi forçada a permanecer em quarentena. Nele, são articuladas críticas contundentes ao presidente Jair Bolsonaro, destacando seu manejo das vacinas e o impacto prejudicial de suas decisões sobre a saúde pública. Essa análise levanta questões sobre a responsabilidade dos líderes políticos em momentos de crise. É provável que grupos com ideologias nacionalistas extremas não apenas discordem, mas também considerem as perspectivas apresentadas na obra como uma afronta, evidenciando a polarização crescente no debate político e social. Essa reação revela a dificuldade de engajamento com críticas fundamentadas, muitas vezes substituídas por uma defesa acrítica de narrativas que priorizam a ideologia em detrimento da verdade factual.

Embora se trate de um documentário, a obra evoca a estética de um filme do gênero slice of life, retratando personagens em atividades cotidianas, mesmo durante o isolamento. Cenas de exercícios na sala, cozinhar e conversas por vídeo oferecem uma visão íntima e realista da vida durante a pandemia. Essa abordagem destaca a resiliência e a adaptação das pessoas frente às dificuldades, mostrando como pequenos momentos do dia a dia podem se tornar significativos. Ao capturar essas experiências, o filme celebra a vida em sua forma mais autêntica, revelando a capacidade humana de encontrar conexão e significado, mesmo em tempos desafiadores.

A obra inclui detalhes que evocam a impressão de erros de gravação, exemplificados por Brendo ao tentar se posicionar adequadamente diante da câmera. Sua solicitação ao amigo para evitar gravações muito próximas, acompanhada de momentos de irritação, indica uma busca pela autenticidade em meio à vulnerabilidade da exposição. Essa dinâmica além de contribuir para a humanização do protagonista, funciona como dispositivo narrativo que destaca a desconexão entre imagem pública e a realidade pessoal, sublinhando a pressão que muitos sentem ao se expor em um mundo digital que exige perfeição. A tensão entre o desejo de ser visto de forma autêntica e a necessidade de se conformar a padrões de estética e comportamento estabelecidos pela sociedade cria uma profundidade emocional na narrativa, permitindo que o público se conecte mais intimamente com a experiência do protagonista.

Dia da Posse é uma obra multifacetada que, embora centrada na trajetória de Brendo, oferece uma reflexão profunda sobre a condição humana durante a pandemia. As críticas ao governo daquela época e as nuances da vida cotidiana durante o isolamento enriquecem o discurso, ressaltando a responsabilidade dos líderes e a complexidade das experiências vividas. Ao unir aspectos íntimos e coletivos, a obra não apenas documenta um momento específico, mas também convida o público a considerar as implicações sociais e emocionais de sua realidade.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Anatomia de uma Queda - A História de um Homem que Cai

Anatomia de uma Queda | Le Pacte

Afinal, Sandra é culpada? Foi acidente? Nesse caso, pouco importa!

Tudo em Anatomia de uma queda cai. A bolinha, no início, descendo escada abaixo indicando que a relação do casal que há muito caiu. A relação pais e filhos segue caindo. As expectativas do início já estão no abismo desde o dia 1. O julgamento, teatral e terrivelmente feroz para a mulher, tudo em queda.

Anatomia de uma queda conta a história de um casal com um filho e um cachorro. O filme parece ter invertido os papéis, assim como em Cenas de um casamento de 2021. Sandra, não esbanja feminilidade, é prática, objetiva, trabalha fora, escritora de sucesso. Samuel, quase invisível, faz o papel do que a sociedade considera feminino. Do lar, cuida do filho, do cachorro e da casa, usa pano de prato no ombro, não se acha na carreira de escritor. À sombra de Sandra, amarga dentro de casa, segundo ele, sobrecarregado, sozinho, como o lagosta sem par.

O ressentimento era tempero constante na relação deles. A cena inicial já deixa claro isso: ela tentando conceder uma entrevista na sala, enquanto o som dele, em volume máximo, repetido e irritante, descia do andar de cima atrapalhando o andamento daquela conversa – que também caiu, não vingou. A criança, o filho, Daniel, possui deficiência visual em decorrência de um acidente acontecido outrora e que, como muitas outras coisas, não fica claro de quem foi a culpa! Daniel decide assistir ao julgamento e ali, sim ali, no meio do “teatro” fica conhecendo a ponta do iceberg do que são seus pais. Afinal, que criança sabe verdadeiramente quem são seus pais?

Durante o julgamento, para elucidação do ocorrido, o filme abusa de cenas de discussões anteriores ao fatídico dia. Durante dias e sessões exaustivas, a sexualidade, o amor, a bondade, a devoção, a lealdade, o caráter de Sandra são expostos à prova o tempo inteiro.

Em dado momento, a acusação expõe o áudio de uma discussão entre o casal. Discussão calorosa que quem escuta com um “ouvido de Samuel”, encontra um homem triste, traído, injustiçado. Quem escuta com um “ouvido de Sandra”, encontra um homem covarde e uma mulher que fez da vida o que achava que devia ter feito. Na discussão, ele, histérico, culpa Sandra pelo acidente do filho além de alegar que nunca chegou aonde queria porque ela roubou a vida dele e a ideia do seu livro. Ela, calma, claro!, diz que ele não fez o que quis porque não teve coragem. Não só não bancou o próprio desejo, como ainda imputou culpa a terceiro.

Antes do veredito, Daniel informa que vai depor. O julgamento é adiado para o dia seguinte e, em casa, Daniel pede para ficar apenas com a tutora designada pelo juízo. Em um determinado passeio frio, conversando, Daniel pergunta à tutora como se toma uma decisão difícil. Ela não sabe, mas supõe que às vezes é uma questão de escolha. Pronto! Ali estava desenhado o filme. Cortando para Daniel tocando no piano a mesma música que tocava junto com Sandra no início do filme. Ele escolheu! Fez o que foi possível.

Fim de julgamento! Sandra inocentada, comemora com os advogados sua liberdade ao mesmo tempo em que chora por ter sido nessas circunstâncias. Vai para casa. Sobe ao quarto do filho. Ele dorme! Antes que ela se retire, ele a chama. Eles se abraçam. Um ato de cumplicidade? Um conforto de terem um ao outro? Jamais saberemos. Ato final, no escritório, Sandra, deitada, abraça o cachorro. Toca a mesma música que mãe e filho costumavam tocar juntos, em par.

Assassinato? Suicídio? Acidente? Nesse caso, de novo, pouco importa! Anatomia de uma queda, parafraseando a psicanalista Maria Homem, é sobre um homem que cai, mas também, ouso dizer, sobre escolher o que se aguenta sustentar.

Autora:


Lá em 2004 participei do meu primeiro filme. Ali apaixonei pelo cinema, mas como toda boa paixão, à la Jack e Rose, naufragou. A vida toma rumos e acabei seguindo outra área. Mas nada apaga uma boa paixão, né isso? Me chamo Carol Sousa e hoje falo e escrevo sobre cinema, quem sabe isso quer dizer amor...

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Terrifier 3 - Espectador como uma Simples Sanguessuga

Terrifier 3 | Cineverse

Terrifier 3 não tenta se reinventar em comparação com seus dois filmes anteriores, oque pode ter um lado bom e um lado não tão bom assim. Por conta de que para quem está indo pelo entretenimento proposto pela violência, vai apreciar o filme do mesmo jeito que os dois filmes anteriores. Mas, esse filme não tem tanta violência gráfica comparado com o segundo que tem cenas mais brutais graficamente. Mas mesmo que a obra carregue a violência que propõe desde o início, isso o torna satisfatório?

A obra tenta desenvolver uma história para uma final girl que tem carisma e tem um desenvolvimento básico, mas a obra em si não se sustenta com oque tem. Para aqueles que buscam o entretenimento na violência, o filme acaba caindo na mesmice dos outros dois filmes, mas com uma direção mais decidida a elaborar o lado cômico do Art o Palhaço. Lado cômico que é um dos pontos que fazem o filme ter algum diferencial dos outros dois. 

Mas o filme é basicamente uma resposta ao público que está lotando as salas de cinema para assistir essa continuação. O diretor não tenta se arriscar em sua proposta pelo fato de que já se tem a resposta do público de estarem interessados em mortes mirabolantes, e nada além disso. Algo que poucos vão se incomodar caso a violência não for o entretenimento  favorito do mesmo. 

Quando me retirei da sessão, observei muitos colegas de imprensa dizendo coisas como "O que faz uma pessoa pagar um ingresso para assistir só isso? Só violência." mas, com todo respeito aos queridos leitores: O que faz uma pessoa pagar ingresso para ver uma sequência de filmes de carros que voam? O que faz os espectadores pagarem mais e mais ingressos de um multiversos de super heróis (sem contar que a maioria dos filmes são de medíocres para pior)? Não seria algo plausível pessoas ficarem entretidas com um palhaço sádico sem uma linha de diálogo?

Acredito que a saga Terrifier é uma resposta justa aos novos espectadores, onde se vive uma geração que não vê mais interesse em cenas de sexo em séries e filmes, mas assistir um casal sendo cortado em vários pedaços é algo cômico. Não que oque eu digo seja uma novidade, ao longo da história da raça humana sempre houve registros de uma ligação forte entre a perversidade com o entretenimento e o divertimento banal humano. 

Mesmo o filme sendo uma jornada de salvação e recuperação da personagem Sienna Shaw, ela é só um pano de fundo para ter um porque do palhaço fazer tudo oque faz. O filme ainda tenta colocar elementos do terror sobrenatural para ter uma razão desse ser não morrer. Oque serve como um utensílio de alívio para o espectador que está interessado no que ele é capaz de fazer com o outro. Pois é isso que significa Terrifier, não é uma narrativa envolvente, não são plots inimagináveis, nem personagens marcantes. É puramente o desejo do espectador em apreciar e desafiar o diretor em "me mostre a violência que você sabe fazer de melhor." e o diretor acata. 

O espectador para a direção está em primeiro lugar, e o diretor não está interessado em desafiá-los ou questioná-los. Terrifier consegue mostrar a perfeita representação da indústria cinematográfica atual. Se o público quer ver isso, para que mudar oque está dando certo? Não existe uma aventura, nem mesmo uma causa de inquietude pós sessão, é uma piada idiota. Mas é uma piada idiota que dá dinheiro. Logo, Terrifier em sua essência funciona, em mostrar de forma direta que o espectador é só um ser sedento por sangue e que consegue encontrar algo prazeroso em cada morte que aparece. 

 TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.

O Aprendiz - o filme que Donald Trump não quer que você veja

O Aprendiz | Diamond FIlmes

O aprendiz conta a forma com que Donald Trump ascendeu sua carreira de forma a se tornar um dos grandes empresários dos anos 80. Acompanhamos Trump, um homem que ao mesmo tempo que tenta emergir na vida, também tem de fugir do processo judicial que persegue a ele e sua família. No entanto, é na relação com Roy Cohn, que Trump é realmente lapidado, se transformando com o passar do filme, no ser humano que hoje vemos na política americana.

Um filme que, por se tratar de uma película americana falando sobre uma figura muito forte até hoje, tinha tudo para cair para um lado de idealização, mas que consegue encontrar um meio termo excelente entre humor e fidelidade histórica. Inicialmente, Trump é posto como uma figura de piada, entretanto, na segunda metade fica evidente sua busca por capital acima de qualquer coisa, de forma brutal, mostrando inclusive atos abomináveis do mesmo. Dessa forma Ali Abbasi, equilibra o filme, de modo que não caia para o caricato nem para o raso.

O filme constrói a imagem de Trump em um primeiro plano, como um jovem esforçado e afetuoso pelos que o rodeavam, com o passar do tempo, entretanto vemos a transformação de Trump na verdadeira faceta do capitalismo, um homem que uma vez fora gentil, agora não tem mais afeto a nada que não o gere qualquer tipo de lucro. Essa transformação é acompanhada tanto no evoluir de suas roupas, no sentido de cada vez mais luxuosas, quanto no introduzir do dourado em acessórios e cenários, evidenciando, dessa forma, o enriquecimento e mudança da mentalidade do personagem.

A atuação de Sebastian Stan e Jeremy Strong, contribuem diretamente com o impacto que o filme busca causar. Sebastian Stan interpretando Donald Trump, brilha na questão do contraste que consegue alcançar do Trump do começo do filme para o do Final. Já Jeremy Strong que interpreta Roy Cohn, começa com uma atuação mais forte, sendo bem duro mas sempre preservando a amizade acima de tudo, dessa forma lapidando seu aprendiz, com o passar do tempo, o homem que se mostrava tão duro e forte, agora já se encontra consumido por sua doença, que esconde veemente. Mesmo com seu mentor a beira da morte, Trump não faz questão alguma de ajudá-lo, agora não o interessa mais a existência de Roy.

Portanto, uma ótima comédia biográfica que foi capaz de me entreter por todo seu tempo de duração. Apesar de não conhecer a história do filme previamente, a obra foi capaz de transmitir a mensagem que desejava de forma clara e direta. No entanto, acredito que perde um pouco da força ao final, mas nada que atrapalhe a experiência.


Autor:


Me chamo Gabriel Zagallo, tenho 18 anos, atualmente estou cursando o 3º ano do ensino médio e tenho o sonho de me tornar jornalista, sou apaixonado por cinema e desejo me especializar nisso. Meus filmes favoritos são Stalker, Johnny Guitar, Paixão e Rio, 40 graus.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Abraço de Mãe - Sim, tem como fazer Terror Cósmico no Cinema Brasileiro

Abraço de Mãe | Lupa Filmes

O filme conta a história da bombeira Ana, que é interpretada pela atriz Marjorie Estiano. Depois de ter passado 2 meses afastada de seu cargo por causa de um problema ocorrido em um incêndio, ela consegue voltar com apoio da sua equipe. Até que acontece um pedido de resgate de um asilo por conta de um desabamento, mas o desabamento acaba sendo o menor dos problemas que toda a equipe deve enfrentar nessa chamada de socorro. Abraço de Mãe foi exibido no Festival do Rio de 2024 e tem lançamento hoje(23/10/2024) na Netflix.

É preciso dizer que o filme funciona seguindo dois caminhos: um dos caminhos é a jornada de luto da Ana com sua mãe, e o outro sendo o pânico de não saber oque acontece naquele asilo. Tem como imaginar a narrativa como uma jornada de luto da personagem? Claro, mas o filme consegue ir mais afundo do que a simples alegoria. Para começar que o filme tem como base influencias de John Carpenter(especificamente seus trabalhos como Príncipe das Trevas e O Enigma de Outro Mundo) e o mestre do terror H.P. Lovecraft, com muitas similaridades que não ficam boiando apenas como referências soltas. 

O filme gira em torno de uma casa que está a ponto de desabar e completamente habitada por pessoas loucas, em um cenário no qual não é possível confiar em ninguém(remete ao mesmo formato do grupo de trabalhadores no Ártico, como em Enigma de Outro Mundo), com uma chuva torrencial acontecendo no Rio de Janeiro, os aprisionando no local e sem a ajuda de outros bombeiros conseguirem chegar a tempo. Na sua essência o filme já consegue funcionar e com uma direção calma, que não vai com tanta sede ao pote e criando uma atmosfera pessimista, e destrutiva, em torno daquele espaço. 

O filme claramente não tem tamanho orçamento para efeitos práticos, mas tem efeitos especiais muito bem feitos e sem dever nada no quesito de qualidade. Mesma coisa vale para a ambientação do asilo, que a direção de arte e a fotografia tornam o espaço nojento apenas com as texturas das paredes e uma iluminação que mostra um trabalho maduro na decupagem. O trabalho de figurino e maquiagem também fazem sua função em conjunto com todo os tópicos técnicos. 

A jornada de luto da bombeira Ana consegue servir perfeitamente a alegoria proposta com a ameaça que existe dentro do asilo, a falta de capacidade em não saber oque aconteceu em uma noite traumatizante com a mãe, oque ela fez de errado, como Ana consegue se perdoar por algo que ela acredita ser culpada e tudo isso é respondido com o cordão narrativo de Ana tentando salvar Lia, uma garota que está lá por causa de seu pai, desse culto à um ser desconhecido. Funciona perfeitamente pela direção que consegue conduzir toda a narrativa com bastante tensão e suspense junto com a intepretação de Marjorie, que faz o espectador torcer pela personagem se superar naquele cenário sem esperança. 

O filme, mesmo tendo um trabalho geral bem sucedido, ainda tem pontas soltas dentro da narrativa que acontecem por adições desnecessárias ao todo proposto. Algumas dessas adições são alguns personagens que servem ou para aumentar a tensão em algum momento, ou para servirem de alívio cômico, mas não conseguem exercer nada durante a obra, nem mesmo quando um deles desaparece. Algo que, infelizmente, é normal acontecer em filme que tem muitos personagens. Mesmo com essa problemática, a obra não se perde na sua proposta narrativa inicial. 

Abraço de Mãe consegue ser uma luz para os fãs de terror cósmico no Brasil e consegue transmitir a tensão e a jornada do luto de mãos dadas, capturando a atenção do espectador para saber até onde a Ana é capaz de chegar para salvar alguém e para salvar sua própria consciência. 

TEXTO DE ADRIANO JABBOUR.


Sting: Aranha Assassina - Quando o Terror Se Perde em Tentativas de Humor e Drama Familiar

Sting - Aranha Assassina | Diamond Filmes Em Sting - Aranha Assassina, uma noite fria e tempestuosa em Nova York, um objeto misterioso cai d...