quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Corpo Presente – Expressão e Liberdade dos mais Subjetivos Corpos

Corpo Presente | Embaúba Filmes


O cineasta veterano Leonardo Barcelos, resolveu embarcar, desta vez, na direção de outro documentário bastante experimental. O produtor apresenta “Corpo Presente”, filme com um tom bastante conceitual, que dialoga com as questões e pluralidades que nossos corpos podem representar na sociedade. Narrado e protagonizado pela atriz Ludmilla Ramalho, mas também com narrações de depoimentos citados em paralelo por alguns expoentes sociais brasileiros como Suely Rolnik, Ailton Krenak e Erika Hilton. O documentário é dividido em cinco atos, são eles: a pele, o outro, a natureza, as marcas e a expansão. E é a partir de cada um deles que destrincharei esse texto.

Ato 1 – A pele

“Busco saídas pra não ser devorada no meio da cartografia que desenho”, Ludmilla comenta. Nesse primeiro momento é possível perceber que a narradora expõe sobre as problemáticas das cobranças que a sociedade impõe aos nossos corpos, principalmente no que tange o feminino. Em um uma determinada cena, há uma personagem inteiramente coberta com uma espécie de algodão enquanto outro personagem vai retaliando e moldando a forma desta camada branca. Isso nos traz para um lugar onde analisamos sobre como temos sempre padrões de beleza inalcancáveis e muitas vezes tentamos nos moldar para chegar nesses parâmetros. Nossa matéria física é constantemente inferida e julgada; nossos aspectos são reduzidos, quando, na verdade, simplesmente refletem a singularidade e a diversidade de quem somos como pessoa.

Ato 2 – O outro

“É só através do outro que posso existir? Estou preso nessa imagem que fazem de mim e eles também? O mesmo processo.”

Nesse ponto a personagem se questiona como os outros são muitas vezes nossos espelhos e nos identificamos a partir de outros corpos. No início do documentário, há um plano de uma cena bem dirigida fotograficamente com um espelho numa praia de costas para o mar, como se nós, espectadores, estivéssemos nos olhando nesse objeto. Entretanto, não há reflexo de ninguém, apenas das ondas no mar desaguando na baía. Essas alegorias tanto do espelho quanto do mar interrelacionam com os reflexos que temos como ser humano e como o mar representa as infinitas possibilidades que podemos nos enxergar de si mesmo, mas também no outro. A busca pela nossa identidade é contínua, seja nos modos de nos expressarmos, como no modo de agir,vestir, andar, falar, gesticular, etc.

Nossos comportamentos e influências, muitas vezes, são pautados pelo outro, mas até onde vai esses limites de comparação? É possível sermos nós mesmos sem estarmos o tempo todo nos olhando a partir da percepção do “outro”? Sendo que provavelmente o “outro” também pode estar seguindo o mesmo padrão. São questões que precisamos repensar como indivíduos e discernir até que ponto devemos nos deixar ser enxergados por outras pessoas e por opiniões que não nos cabem, nosso corpo é apenas uma estrutura física de quem somos. Nossos pensamentos, ideias e personalidades também fazem parte do nosso corpo, é preciso levar em conta esses fatores e não nos limitarmos em relação ao interlocutor.

Ato 3 – A natureza

“A mulher é a matéria, o homem é o verbo. O homem é uma ideia e a mulher um barro que deve ser moldada”

Neste ato, a protagonista discute sobre a visão da mulher em relação ao homem, abordando sobre o viés machista e misógino que a sociedade vive. O homem, na maioria das vezes, é visto como símbolo de liderança e porta-voz, enquanto a mulher uma agente condescendente que deve seguir as regras e os comportamentos ditados por ele. Isso pode ser comprovado em diversos aspectos sociais, exemplo disso, é a questão que ocorreu recentemente no  novembro passado, na Câmara de Brasília, onde vários deputados, na maioria homens, votaram a favor da PEC 164 na  Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com 35 votos favoráveis contra 15 opositores, essa PEC em questão pode acabar com os direitos das mulheres de interromperem gravidezes em caso de estupro, anencefalia fetal e risco de morte da gestante, lei essa que já é outorgada no 5º parágrafo da Constituição Federal. Ou seja, são direitos de corpos femininos que podem ser violados por opiniões ideológicas masculinas na esfera política.

Isso reflete em vários outros campos da sociedade, onde a mulher é inferiorizada ou questionada pelos seus atributos apenas por ser quem é, sem contar a grande taxa de feminicídio que o Brasil tem anualmente. Enquanto os políticos em atividade poderiam estar trabalhando em programas de combate à violência contra mulher que acontece em varias camadas sociais, muitos estão simplesmente debatendo sobre a redução dos direitos das mesmas.

Ato 4 – Marcas

“O corpo feminino tem essa história de violência, de Aia […] O corpo fala e expõe conflitos, se dividem em ideologias e preconceitos. Lembrar do corpo afro indígena que tem no Brasil. É preciso lembrar da ancestralidade”.

A partir deste trecho é destacado sobre os corpos que sofreram violência no passado, principalmente em peles indígenas e africanas femininas. Durante esse ato, o documentário nos mostra cenas de corpos negros e de variados pesos. As mulheres, desde os tempos de colonização eram sujeitas a várias barbáries, inclusive o estupro. Elas sempre foram vistas como um corpo apenas de reprodução ou prazer carnal. Até os tempos atuais, é possível perceber essa herança ancestral de preconceito, e analisar como muitas vezes os corpos femininos são objetificados e violados. 

Etnias indígenas, quilombolas e outros grupos de raça negra têm um histórico de exploração muito forte no país, o que acabou perpetuando em várias gerações posteriormente. Além disso, os corpos negros são os que mais sofrem repressão atualmente. Corpos negros femininos são muitas vezes sexualizados e estereotipados pela população e precisamos como cidadãos desmitificar esses estigmas e reconhecer essa violência propagada por nossos antepassados e promover discussões que viabilize essas histórias, para que, de alguma maneira, tenhamos mais consciência sobre a realidade que um corpo negro vive e já viveu no país. Não podemos ter memória curta.

Ato 5 – A expansão

“Não há limites para o corpo. Ser arquiteto da sua identidade. A construção do gênero é binária, uma cultura antiga. Cada um pode estar no lugar onde quer. Transfobia. Esses corpos são invisíveis. A sociedade precisa enxergar o lado deles. Dessa humanidade.”

A narradora expõe aqui sobre a expansão dos corpos tradicionais, sobre a ilimitada possibilidade que os corpos podem ser. Discute sobre como a sociedade desde os primórdios, implementou essa cultura da binariedade e ao mesmo invisibilizou corpos não binários. É o caso do preconceito com todos os grupos LGBTQIA+. Esses corpos sentem na pele todo tipo de discriminação infringido sobre eles, em um instante do documentário é mostrado um caso de violência que aconteceu com um corpo trans na vida real, registrado em vídeo, e não aparecia ninguém prestando assistência; é uma impunidade constante. São indivíduos que possuem inúmeras dificuldades para se inserirem na sociedade e que lutam para ter o mínimo de respeito. Ao longo desse ato, é possível ouvir em um trecho da deputada federal, Erika Hilton, que é travesti e, está sendo porta-voz em um discurso que parece ser em uma tribuna, reafirmando e conscientizando sobre a justiça e liberdade desses corpos trans.

Mesmo com tanta informação, dados científicos, pesquisas, etc., ainda é possível visualizar o quanto a população está longe de legitimar esses corpos. Exemplo disso, são as pesquisas de taxas que revelam que o Brasil é um dos países que mais matam pessoas trans no mundo. É uma luta constante que esses grupos enfrentam para serem reconhecidos e validados.

Acredito que o documentário poderia esclarecer melhor as identidades das personalidades que possuem citações, as quais são ouvidas em paralelo. Não é mostrada nenhuma imagem desses ícones, tampouco legendas para o espectador. Nem todo mundo tem consciência de quem são esses expoentes, como Suely Rolnik que é uma grande escritora e psicanalista, Ailton Krenak, um indígena e ambientalista dos mais respeitados do país, e claro, Erika Hilton, uma política muito eloquente que luta pelos direitos humanos na Câmara dos Deputados. Não há como reconhecer todos apenas por suas vozes. Creio que faltou um didatismo nesse tópico, pois temos interesse em saber quem está falando para podermos associar com a causa.

Em questão da narrativa, em alguns momentos, achei cansativa. Poderia ter um ritmo mais fluído na edição dos atos. A fotografia é muito bem trabalhada. Sobre as representações dos corpos nus, achei muito potente essa liberdade que o documentário buscou e mostra de forma crua e artística a diversidade de todas nossas matérias físicas.

Autor:


Meu chamo Leonardo Veloso, sou formado em Administração, mas tenho paixão pelo cinema, a música e o audiovisual. Amante de filmes coming-of-age e distopias. Nas horas vagas sou tecladista. Me dedico à exploração de novas formas de expressão artística. Espero um dia transformar essa paixão em carreira, sempre buscando me aperfeiçoar em diferentes campos criativos.

Mufasa: O Rei Leão – Uma Nova Origem, mas sem Reconquistar a Magia dos Clássicos

Mufasa: O Rei Leão | Disney


Prólogo do live action de Rei Leão, produzido pela Disney e dirigido por Barry Jenkins, o longa contará a história de Mufasa e Scar antes de Simba. A trama tem a ajuda de Rafiki, Timão e Pumba, que juntos contam a lenda de Mufasa à jovem filhote de leão Kiara, filha de Simba e Nala. Narrado através de flashbacks, a história apresenta Mufasa como um filhote órfão, perdido e sozinho até que ele conhece um simpático leão chamado Taka – o herdeiro de uma linhagem real. O encontro ao acaso dá início a uma grande jornada de um grupo extraordinário de deslocados em busca de seu destino, além de revelar a ascensão de um dos maiores reis das Terras do Reino.

O filme O Rei Leão (2019) recebeu críticas negativas devido à falta de expressões faciais nos animais, o que conferiu à obra um tom mais próximo de um documentário sobre a vida selvagem do que de uma animação. Embora a qualidade técnica da produção seja inegável, o realismo excessivo resultou na ausência de características emocionais nos personagens animais. Em Mufasa, somos apresentados a uma história inédita, que não foi explorada nas animações anteriores, mas que já havia sido mencionada em livros, os quais, no entanto, foram desconsiderados como parte do cânone oficial. Considerando a minha antipatia pelo filme de 2019, decidi dar uma segunda chance à nova produção devido à introdução de uma história inédita. Embora não queira me apoiar exclusivamente na nostalgia como argumento, confesso que ficaria mais inclinado a assistir se a animação fosse no estilo clássico.

O filme narra a história de Mufasa e como ele conheceu Taka, que futuramente seria conhecido como Scar, deixando claro que ambos não são irmãos de sangue, mas sim irmãos de criação. Essa abordagem difere da apresentada no livro A Tale of Two Brothers, que relata a história de Ahadi, o Rei Leão, que tinha grande afeição por seus filhos, Mufasa e Scar. Mufasa, sendo o primogênito, assumiria o trono um dia, motivo pelo qual Ahadi passava longas horas com ele, ensinando-lhe tudo o que precisaria saber. Com o tempo, Scar passou a nutrir ciúmes de Mufasa. Foi então que Ahadi quebrou uma promessa feita a Scar. Sentindo-se frustrado e consumido pelo rancor, Scar fez sua própria promessa: um dia governaria as Terras do Reino. Essa narrativa faz parte da coleção The Lion King: Six New Adventures, uma série de livros derivados, inspirados no universo de The Lion King. 

A coleção, composta por seis histórias escritas por diferentes autores, foi publicada pela Grolier Enterprises, Inc. e produzida pela Mega-Books, Inc., em 1994. Infelizmente, essa história foi negligenciada, já que o primogênito de Simba e Nala não foi mencionado nos filmes, na série animada, nem mesmo nesta produção cinematográfica. Na série animada A Guarda do Leão, a origem da cicatriz de Scar é apresentada de maneira distinta da mostrada nos livros e neste novo filme. O que decepciona os fãs da franquia, que esperavam ver os livros adaptados para o formato audiovisual, é que, embora se trate de uma adaptação, ela não ocorre da maneira desejada. A produção se afasta consideravelmente da proposta original dos livros.

A relação entre Mufasa e Taka é profundamente envolvente, mesmo com o público ciente do trágico desfecho que os aguarda. O filme constrói habilmente uma dinâmica rica entre os dois personagens, marcada por respeito mútuo e uma saudável competitividade. A tensão entre eles é visivelmente alimentada pela rivalidade, mas também pela admiração, o que acrescenta complexidade à sua interação. Embora o pai de Taka, o rei da região onde Mufasa chega, não nutria simpatia por ele no início, o filme lida com essa diferença de maneira sutil, mostrando como Mufasa é aceito e acolhido pela mãe de Taka, o que ajuda a humanizar o conflito.

O filme utiliza fanservice de maneira eficaz, agradando tanto aos fãs de longa data quanto aos espectadores que conhecem os filmes clássicos. A música tema e os easter eggs, que fazem referência a eventos futuros, são momentos de nostalgia que certamente provocam sorrisos. No entanto, em alguns casos, o fanservice parece ser uma estratégia um pouco forçada, servindo mais como uma forma de apelo fácil ao público do que como uma contribuição significativa à trama.

Ao contrário do primeiro filme, em que os animais não exibiam expressões faciais, nesta nova versão, a tecnologia avançada permite que eles mostrem emoções de forma muito mais clara e detalhada. As expressões faciais agora transmitem com maior intensidade os sentimentos dos personagens, o que aproxima o público de suas experiências e cria uma conexão emocional mais forte. Essa melhoria na animação permite que os espectadores entendam melhor o que os animais estão vivenciando.

Mufasa: O Rei Leão apresenta uma história inédita sobre Mufasa e Taka, oferecendo uma nova perspectiva sobre a origem de Scar. A animação melhorada permite expressões faciais mais detalhadas, criando uma conexão emocional mais forte com os personagens. Contudo, o filme se afasta das narrativas originais dos livros e da série animada, com fanservice que pode parecer forçado. Embora a produção traga elementos de nostalgia, ela não consegue resgatar completamente o espírito dos clássicos, deixando uma impressão mista.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.


Sonic 3 - Shadow Chegou, Robotnik Está de Volta e a Velocidade Não Para!

Sonic 3 | Paramount Pictures

Sonic, Tails e Knuckles devem enfrentar um adversário misterioso, Shadow, o Ouriço, enquanto o Dr. Robotnik ressurge após sua derrota com um novo plano. 

Sonic, desde o lançamento de seu primeiro filme em 2020, tornou-se um dos exemplos bem-sucedidos de adaptações de jogos para o cinema. No entanto, inicialmente, seu design gerou estranhamento, o que levou a críticas do público. O estúdio, atento às reclamações, ouviu os fãs e ajustou o visual do personagem, resultando em um design mais amigável e menos realista. O primeiro filme apresentava uma premissa típica de "Sessão da Tarde", com uma criatura de outro planeta, o Sonic, e um ser humano. A conexão com os jogos estava no embate entre Sonic e o Dr. Robotnik. 

No segundo filme, os personagens humanos, que eram exclusivos da adaptação cinematográfica, foram mais afastados, a fim de dar mais espaço para o Sonic, além de Tails e Knuckles, que foram os novos personagens introduzidos no filme. No terceiro filme, os personagens humanos foram relegados a um papel secundário, mas sua reintrodução na trama ocorre de maneira mais coerente, alinhada com o desenvolvimento da história. 

Os filmes anteriores não seguiram uma adaptação literal dos primeiros jogos da franquia dos anos 90, mas incorporaram de maneira inteligente elementos que agradaram tanto aos fãs de longa data quanto ao público mais amplo. No segundo filme, por exemplo, a introdução de Tails, previamente anunciada na cena pós-créditos do primeiro longa, foi um acerto ao expandir o universo de Sonic. Além disso, o enredo traz influências de jogos como Sonic Adventure, onde o personagem chega à Terra, e Sonic Adventure 2, com o confronto entre Sonic e Shadow. 

Essas referências não apenas mantêm a essência dos jogos, mas também fortalecem a conexão dos filmes com a mitologia original de forma eficaz, agradando aos fãs sem perder a oportunidade de introduzir novos elementos e desenvolver a trama de maneira envolvente. O uso desses elementos do jogo enriquece a narrativa e mostra um respeito pela franquia, ao mesmo tempo em que a adapta de maneira criativa para o cinema.

O Shadow está impressionante, fiel aos jogos. Ele é, sem dúvida, o personagem mais icônico e complexo da franquia. Como contraparte de Sonic, Shadow compartilha habilidades semelhantes às do herói, como sua supervelocidade, além de técnicas características, como o Spin Dash. Essa técnica, que pode ser traduzida como "Ataque Giratório", consiste em o personagem se enrolar em forma de bola e se lançar rapidamente contra os inimigos, enquanto gira. Outra habilidade notável é o Homing Attack, ou "Ataque com Mira", um movimento no qual o personagem salta e, ao se aproximar de um inimigo, o ataca automaticamente, se dirigindo para ele com precisão.

Uma das principais diferenças entre Shadow e Sonic está nos tênis de Shadow, cuja origem é misteriosa, mas que possuem propulsores, permitindo-lhe até voar. Nos jogos, Shadow também utiliza armas de fogo, o que causou surpresa e até choque na comunidade na época, já que foi a primeira vez que o anti-herói foi retratado com uma arma. Essa decisão gerou um debate acalorado, com alguns defendendo que se tratava de uma evolução natural do personagem, enquanto outros consideravam isso uma tentativa forçada de tornar a série mais "adulta". No entanto, no longa-metragem, o personagem utiliza apenas um revólver, sem disparar tiros reais.

A história de Shadow nos jogos revela que ele foi criado na Colônia Espacial ARK como uma arma biológica, sendo designado "a forma de vida suprema". O objetivo principal do projeto era descobrir a fórmula da imortalidade. O Professor Gerald Robotnik, avô de Dr. Eggman, liderava as pesquisas com a intenção de usar os resultados para curar sua neta, Maria, que sofria de uma doença autoimune. No entanto, no longa-metragem, Maria, a única amiga de Shadow, não está doente, embora a tragédia subsequente seja a mesma. Quando esse arco foi adaptado no anime Sonic X, ele foi censurado ao chegar ao Ocidente. Isso fez com que o filme e o arco de Shadow adquirissem um tom mais sombrio, ao mesmo tempo em que se distanciaram da proposta original da franquia, resultando em uma obra mais obscura e dramática em comparação aos seus predecessores. 

Robotnik retorna com um visual mais fiel aos jogos. No primeiro filme, ele apresentava cabelos castanho-escuros e um bigode fino com cachos nas extremidades. No segundo filme, o personagem adotou uma aparência significativamente diferente: raspou a cabeça completamente careca, deixou seu bigode crescer de forma desleixada, mais espesso e de tom avermelhado, e seu nariz passou a exibir uma notável queimadura de sol de tom rosado-avermelhado, aproximando-se mais do visual dos jogos. No terceiro filme, o personagem ganha peso, e seu visual vai se tornando progressivamente mais fiel ao dos jogos. 

Jim Carrey continua a se destacar no papel, com suas expressões faciais e gestos caricatos característicos. Além de interpretar o próprio Robotnik, Carrey também assume o papel de Gerald Robotnik, o avô do personagem, que, de certa forma, é uma versão mais envelhecida de Robotnik, lembrando a interpretação de María Antonieta de las Nieves, que no seriado Chaves interpretava tanto a personagem Chiquinha quanto sua avó. No entanto, isso funciona devido ao tom exagerado do filme, que é essencialmente caricatural, especialmente no que se refere à interpretação do personagem Robotnik. 

Sonic 3 mantém a essência da franquia ao introduzir Shadow de forma fiel aos jogos, explorando seu passado misterioso e complexo. A trama expande o universo de Sonic com a participação de Tails e Knuckles, enquanto Robotnik retorna com um visual mais fiel aos jogos. O filme equilibra ação, humor e drama, com Jim Carrey continuando a brilhar como Robotnik. A adaptação respeita a mitologia, agradando aos fãs de longa data, ao mesmo tempo em que oferece uma experiência divertida e acessível para todos.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa - Uma Aventura Divertida e Reflexiva Sobre a Natureza e a Simplicidade do Personagem

Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa | Paris Filmes

Um dos personagens mais queridos do universo de A Turma da Mônica irá enfrentar um grande desafio em Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa. Chico Bento acorda para mais um dia na Vila Abobrinha focado em conseguir subir em sua amada goiabeira para pegar a fruta sem o dono das terras saber. O que Chico não esperava era que sua preciosa árvore estaria ameaçada pela construção de uma estrada na região, já que, para desenhar a rodovia, será preciso pavimentá-la pela propriedade de Nhô Lau, exatamente onde a goiabeira está plantada. Focado em salvar a árvore, Chico Bento reúne seus amigos Zé Lelé, Rosinha, Zé da Roça, Tábata, Hiro e toda a comunidade para acabar com o projeto da família de Genezinho e Dotô Agripino. Com a turminha se metendo em diversas confusões, Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa traz uma aventura que irá tirar o sossego e a tranquilidade da Vila Abobrinha.

A Turma da Mônica iniciou sua adaptação live action em 2019 com Turma da Mônica: Laços. Em 2021, foi lançado Turma da Mônica: Lições, e no ano seguinte, chegou Turma da Mônica: A Série, que serviu como desfecho para o elenco dessas produções. Ainda em 2024, foi lançado Turma da Mônica Jovem: O Reflexo do Medo, com um novo elenco, que obteve um desempenho abaixo das expectativas nas bilheteiras. Recentemente, tivemos o lançamento de Turma da Mônica: Origens. No entanto, Chico Bento e a Goiabeira Maravilhosa conseguiu remover o gosto amargo deixado por O Reflexo do Medo, oferecendo uma história simples, mas extremamente divertida. 

O filme se destaca por sua abordagem simples, mas eficaz, ao contar uma história que não tenta se distanciar da essência do personagem. A produção resgatou o tom leve e bem-humorado das narrativas originais, sem recorrer a inovações desnecessárias que poderiam descaracterizar a obra. Por exemplo, todos os personagens, incluindo os adultos, são retratados de maneira boba. Isso fica evidente logo no início do filme, durante o flashback que mostra o nascimento de Chico Bento. Na cena, em vez de ajudar a esposa no parto, o pai de Chico se dedica a imitar os gestos dela, evidenciando sua atitude pueril.

O roteiro do filme explora de forma clara e envolvente a relação entre os seres humanos e o meio ambiente, destacando a importância da preservação natural. A trama acompanha Chico Bento, um garoto que tenta salvar a goiabeira de sua aldeia, ameaçada pela construção de uma estrada. A árvore, que representa a memória e a vivência de Chico, se torna um símbolo da fragilidade da natureza diante do avanço do homem. A ameaça à goiabeira é mais do que um simples conflito; ela ilustra de maneira impactante como as intervenções humanas podem desestruturar o equilíbrio natural. 

Ao focar nessa luta pessoal e íntima, o filme mostra que cada pequena ação, como a preservação de uma árvore, pode ter repercussões significativas. A história, simples mas profunda, conecta o público jovem a questões ambientais de maneira direta, incentivando a reflexão sobre o papel de cada um na proteção da natureza.

A performance de Isaac Amendoim como Chico Bento é um dos pontos mais fortes do filme. Ele consegue capturar a essência do personagem de forma autêntica, transmitindo sua ingenuidade e simplicidade de maneira encantadora e natural. Amendoim dá vida a um Chico que é genuíno e engraçado, sem forçar os traços caricatos que poderiam desvirtuar a figura do caipira. 

Sua interpretação traz um frescor ao personagem, equilibrando perfeitamente o tom leve e a profundidade emocional necessária para que o público se conecte com a história. A habilidade de Amendoim em expressar as pequenas nuances de Chico — seja nas interações com os amigos ou na sua relação com a natureza — enriquece o filme, tornando-o mais envolvente. Ele consegue transmitir a pureza e a determinação do personagem sem exageros, o que faz com que Chico Bento se sinta ao mesmo tempo familiar e novo, cativando tanto os fãs antigos quanto os novos espectadores.

Chico Bento e a Goiabeira Maravilhosa com uma abordagem leve e divertida, resgata a essência do personagem, combinando humor e uma importante mensagem ambiental. A performance carismática de Isaac Amendoim como Chico Bento é um dos grandes destaques do filme, garantindo uma experiência encantadora e reflexiva para todas as idades.

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Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim - Uma Jornada Sem Magia e Surpresas

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim | Warner Bros. Pictures


O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim acompanha a história não contada por trás do famoso Abismo de Helm, a fortaleza icônica que ajudou na jornada de Aragon, Legolas e Gimli centenas de anos antes da fatídica Guerra dos Rohirrim, contando a vida e os tempos sangrentos de seu fundador, Helm Hammerhand, o rei histórico de Rohan. 183 anos antes das aventuras de Frodo e dos eventos da trilogia original de filmes, O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim acompanha o destino do povo do reino de Rohan e a saga de seu rei Helm, ambos em guerra com Wulf, lorde do povo Dunlending que busca vingança pela morte de seu pai. Será Hera, filha de Helm, porém, quem irá liderar a resistência contra os ataques desse implacável inimigo antes que seja tarde demais.

Após a famosa trilogia de livros de Tolkien, ambientada na Terra-média, ser adaptada para o cinema entre 2001 e 2003, ela se tornou um dos maiores ícones da cultura pop e inspirou diversos jogos de RPG. Sob a direção de Kenji Kamiyama, conhecido por seu trabalho em Star Wars: Visions, e com a produção executiva de Peter Jackson, o mesmo diretor de O Senhor dos Anéis, O Hobbit e King Kong (2005), o filme não tem a intenção de ser uma continuação de O Senhor dos Anéis. Ao contrário, busca contar uma história independente, ambientada em uma antiga guerra no reino de Rohan. 

Para isso, os criadores introduzem uma personagem presente nas obras de J.R.R. Tolkien: a filha de Helm Mão-de-Martelo, Hera. Como fã de animações e de anime, fiquei muito empolgado quando o projeto foi anunciado. No entanto, infelizmente, a obra não atendeu às minhas expectativas. O conflito familiar e a luta entre líderes de diferentes "casas" dentro do mesmo reino fazem com que A Guerra dos Rohirrim se assemelhe mais a Game of Thrones. A fantasia perde destaque, sendo substituída por uma trama centrada em traições, amores não correspondidos e mortes impactantes.

A trama do filme é razoável, tentando alcançar algo grandioso, mas segue caminhos previsíveis quanto ao destino de certos personagens e ao desenvolvimento de outros. Um exemplo disso é o vilão, cuja conexão com Hera é rasa, e sua motivação se resume apenas à vingança, sem uma exploração mais profunda. Isso faz com que seu arco seja monótono e o final, sem surpresas.

A protagonista Héra é uma personagem forte, com uma personalidade marcante, o que representa uma evolução em relação às primeiras obras de Tolkien. Sua jornada, embora eficaz, segue um caminho um tanto genérico, encaixando-se no clichê da princesa rebelde, sem explorar completamente seus desejos e habilidades. O enredo não se limita a ela, mas também destaca Olwyn, uma guerreira do passado, ressaltando que mulheres como ela desempenharam papéis cruciais na defesa de Rohan. Em um cenário de guerra, onde os homens muitas vezes minimizam o papel das mulheres, essas guerreiras são chamadas de volta à ação, trazendo uma nova dinâmica para a Terra-média. O vilão Wulf segue o estereótipo do guerreiro movido por vingança, enquanto os arquétipos masculinos se dividem entre heróis honrados e os gananciosos, dispostos a matar sem considerar o bem maior.

Logo no início de A Guerra dos Rohirrim, a exibição do título é acompanhada pela trilha sonora icônica de O Senhor dos Anéis, composta por Howard Shore, oferecendo uma dose de nostalgia para os fãs da franquia. A música, épica e emocional, com seus elementos orquestrais e corais, evoca a grandiosidade da Terra Média, estabelecendo imediatamente um vínculo com o público. 

No entanto, quando a trilha segue com a composição de Stephen Gallagher, editor de música da trilogia O Hobbit de Jackson, fica claro que ele tenta manter o estilo de Shore, mas sem o mesmo impacto. Embora o retorno ao tema de Rohan seja bem-vindo, a música de Gallagher, por mais competente que seja, acaba sendo uma réplica segura demais do que já conhecemos, sem conseguir oferecer uma identidade única para o novo filme. A familiaridade da trilha sonora traz conforto, mas também revela uma falta de inovação, o que pode deixar os mais exigentes com uma sensação de déjà-vu.

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim tenta explorar uma nova parte da história de Rohan, mas se afasta dos elementos de fantasia que tornaram a obra original única, focando mais em intrigas políticas e conflitos familiares. A protagonista e os temas de guerra e vingança trazem uma nova dinâmica, mas a trama perde a mística da Terra Média. 

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Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Empate – Seringueiros, os guardiões da floresta

Empate | Descoloniza Filmes

Direto e reto, o documentário Empate vem para reacender discussão sobre floresta, posse, direitos, condições de vida de trabalhadores rurais e o agronegócio (pop, eles disseram!). A obra é uma poderosa narrativa visual que mergulha na história dos seringueiros do Acre, que lutaram bravamente pela preservação de parte da floresta Amazônica em meio ao avanço do desmatamento à favor do agronegócio (tech, eles disseram!).

Como ambientação, trata daquele velho Brasil das décadas de 70 e 80, marcado pela ditadura militar e suas peculiaridades, por assim dizer. Segundo consta, a ideia era incentivar a ocupação da Amazônia para proteger fronteiras com o exterior e integrar a floresta ao resto do país. Como isso seria feito? Como qualquer projeto de desenvolvimento econômico: no lugar da floresta, gado, rodovias, hidrelétricas etc. Com o agronegócio em expansão, o desenho estava formado.

Ao contextualizar essa realidade, Empate traz um registro forte e ao mesmo tempo cheio de sensibilidade, simplicidade e rigor histórico. O documentário retrata não apenas a luta dos seringueiros e suas famílias para proteger tanto – e tanto – aquela floresta, como também a ideia de coletividade que sustentou desde o início o movimento.

Entre uma entrevista e outra, uma ambientação e outra, em cada canto, milimetricamente filmado, desde o primeiro minuto, é perceptível presença forte de Chico Mendes. A presença da ausência, como dizem! Ele que norteou o desejo daquele povo pela proteção da floresta, estava a todo tempo nas palavras de saudade, no olhar vazio e esperançoso de todos os personagens. Chico é símbolo da luta ambiental, reconhecido nacional e internacionalmente. A ideia dele já foi disseminada, feito penugem de dente-de-leão ao menor sinal de vento. 

Trazendo para os dias de hoje, os desafios sociais e ambientais ainda persistem, é visível! Empate não acaba nos créditos, pelo contrário, abre espaço para que os debates a respeito da temática não cessem. Por isso é uma obra tão importante.Empate tem uma atmosfera densa e melancólica – triste, até! –, mas deixa vivo o sentido de união de uma comunidade inteira que, com pouco, enfrentou os interesses de grandes corporações e de um Estado omisso e conivente. Lá atrás conseguiu, a história está aí para provar. E hoje?

A luta dos seringueiros, os guardiões da floresta, continua viva em cada pessoa que se posiciona contra a devastação. A ideia é viver junto com a floresta, não sem ela – motivos óbvios.

Autora:


Lá em 2004 participei do meu primeiro filme. Ali apaixonei pelo cinema, mas como toda boa paixão, à la Jack e Rose, naufragou. A vida toma rumos e acabei seguindo outra área. Mas nada apaga uma boa paixão, né isso? Me chamo Carol Sousa e hoje falo e escrevo sobre cinema, quem sabe isso quer dizer amor...

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Sting: Aranha Assassina - Quando o Terror Se Perde em Tentativas de Humor e Drama Familiar

Sting - Aranha Assassina | Diamond Filmes

Em Sting - Aranha Assassina, uma noite fria e tempestuosa em Nova York, um objeto misterioso cai do céu, quebrando a janela de um prédio de apartamentos decadente. Dentro dele, um ovo eclode, dando vida a uma estranha aranha. Charlotte (Alyla Browne), uma garota rebelde de 12 anos e fã de histórias em quadrinhos, descobre a criatura e a nomeia Sting. Enquanto sua mãe e seu padrasto, Ethan (Ryan Corr), lutam para se ajustar à chegada de um novo bebê, Charlotte se sente cada vez mais isolada e encontra consolo na amizade com Sting. No entanto, à medida que a aranha cresce em tamanho e apetite, os animais de estimação dos vizinhos começam a desaparecer, seguidos pelos próprios moradores. Quando a verdadeira natureza de Sting é revelada, Charlotte se vê em uma corrida contra o tempo, sozinha em sua luta para salvar sua família e os excêntricos habitantes do prédio de um aracnídeo voraz que agora os caça. Determinada a proteger aqueles que ama, Charlotte deve encontrar uma maneira de deter a criatura antes que seja tarde demais.

Filmes com animais assassinos costumam misturar o medo com o suspense, e geralmente apresentam criaturas que se tornam uma ameaça para os seres humanos. O filme mais recente envolvendo Aranha Assassina e até possui uma premissa parecida é Infestação (2023), que acompanha Kaleb, um jovem solitário que encontra uma aranha venenosa em um bazar e a leva para seu apartamento. Quando a aranha se espalha rapidamente, o prédio se torna uma armadilha mortal, e os moradores devem lutar pela sobrevivência enquanto a polícia isola o local. No entanto, Em Sting se diferencia ao focar na relação emocional de Charlotte com a criatura, em um enredo que mistura o medo com um toque de empatia e solidão adolescente. A tensão central reside não apenas na ameaça da aranha, mas também no isolamento e na crescente desconexão de Charlotte com os outros, sendo até interessante. Enquanto o Ethan, que exerce o papel de padrasto, sente-se sobrecarregado ao prestar assistência aos moradores do edifício em ruínas, realizando tarefas como encanamento e outras atividades. Além disso, dedica seu tempo livre à ilustração de histórias em quadrinhos, enquanto gerencia suas responsabilidades familiares, incluindo o cuidado do bebê e a manutenção de seu relacionamento com a enteada. O dramas familiar é interessante nesse gênero, mesmo que o foco seja o terror, é possível de criar empatia pelos personagens.

As sequências envolvendo a criatura ameaçadora falham em gerar o impacto desejado, resultando em uma experiência desconexa e sem tensão. Embora o filme se proponha a ser de terror, a mistura de elementos cômicos com o aspecto aterrorizante acaba comprometendo sua eficácia. A tentativa de equilibrar o humor com o medo se revela forçada, prejudicando a imersão do público e minando o potencial das cenas mais intensas. Além disso, a falta de consistência tonal torna a narrativa superficial, afastando a possibilidade de criar uma atmosfera realmente envolvente e inquietante. O filme, ao invés de explorar o medo de forma plena, se perde em uma tentativa equivocada de apelar para diferentes registros emocionais, sem alcançar uma identidade coesa que conecte o espectador à trama.

A protagonista do filme é excessivamente irritante, sempre reclamando do padrasto, do irmãozinho e de tudo ao seu redor. Sua mãe critica o marido, que trabalha fazendo quadrinhos. A única forma de criar empatia pela história é o fato de serem uma família com um bebê envolvido. Se fosse um grupo de amigos, seria fácil torcer para que a aranha resolvesse eliminar todos.

Sting - Aranha Assassina" tenta mesclar terror e drama familiar, mas a mistura de humor e medo compromete a tensão. A narrativa se torna desconexa, e os personagens, especialmente a protagonista, dificultam a criação de empatia. Embora a trama busque explorar o isolamento e a relação com a família, o filme falha em gerar impacto, tornando-se uma experiência insatisfatória para os fãs de terror. 

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

O Conde de Monte Cristo - Um filme Francês que amaria ser um Épico Hollywoodiano

O Conde de Monte Cristo | Paris Filmes

O Conde de Monte Cristo mostra a historia de Edmond Dantes, um navegador que é acusado injustamente por um crime que não cometeu. Depois de 14 anos preso, ele consegue fugir de sua prisão e recomeça sua vida com outro nome, sendo o Conde de Monte Cristo. A partir de seu novo nome e com uma fortuna imensa em suas mãos, ele começa a se vingar de cada um que foi parte de sua prisão. O filme é adaptação do livro com mesmo nome, escrito por Alexandre Dumas, e dirigido pelos diretores Alexandre De La Patelliére e Matthieu Delaporte. 

A direção consegue recriar na sua direção de arte, nos figurinos e na ambientação o tempo em que a história ocorre, além de ter um trabalho efetivo nos efeitos especiais. Os pontos técnicos conseguem seduzir o bastante o espectador para a antiga França, até mesmo em alguns diálogos entre os personagens. O filme também não tenta se aventurar em sua pirotecnia, entregando aquilo que é o essencial, e nada além. 

O filme não é conduzido para ser um grande épico em sua construção, mas mais interessado em ser um filme básico onde segue a jornada do herói. Não que isso seja um problema, até porque não é. E em sua simplicidade de proposta, ele consegue funcionar em quase todos os aspectos. Mas oque faz a obra ser conduzida sem cair na mesmice é a atuação de Pierre Niney como Dantes, que consegue se expressar  sutilmente apenas com os olhares, e o trabalho de direção em conduzir a história em um mesmo ritmo do começo ao fim. Mesmo tendo muitas brechas para a direção seguir um caminho perfeito para se perder, a direção segura sua própria ambição para ter total controle daquela narrativa. 

A obra muitas das vezes querendo utilizar em momentos pontuais o excesso de dramatização com a trilha e com as atuações de alguns personagens faz o filme perder um pouco de sua força narrativa para tentar convencer o espectador de sentir um certo sentimento que não é necessário, já que a própria cena já entrega sem muita necessidade de explicação. Esse efeito felizmente não cai nos diálogos, que são muito bem escritos e executado de forma bastante orgânica pelos atores. 

O Conde de Monte Cristo mesmo sendo um filme conduzido com maturidade na sua direção, com uma construção de época belíssima, é um filme que ao mesmo tempo que acerta em seu controle, ele se contém demais em sua linguagem e em sua entrega ao espectador. É um filme francês que parece ter vergonha de ser francês, soa como uma tentativa de ser um épico hollywoodiano. Oque torna a obra uma ideia meio deslocada. Não seria impossível convencer os espectadores que esse filme é uma produção de Hollywood com apenas atores franceses, pois é esse exato retrato que a direção conduz. 

Mas a obra consegue ser uma jornada bela e sensível em sua maioria, sendo também um atrativo para espectadores mais novos em se interessarem nessa jornada de vingança além das propostas por Hollywood dos últimos anos que faz questão do retrato de um homem como um animal louco por carnificina e armas de fogo. Aqui, nosso protagonista tem múltiplas faces e consegue pensar além das armas que tem em suas mãos. 

Invés de cabeças voando e sangue pingando em todos os cantos, encontramos aqui um personagem que busca sua vingança perfeita dentro do cenário mercantil e na antiga monarquia, que depois caminhou para o capitalismo. A tomada de posses, a verdadeira face do moralismo enrustido, e como o valor de um homem sempre se encontra naquilo que ele possui. Fator que torna o fim da jornada do protagonista algo belo e satisfatório aos olhos dos espectadores. 

O Conde de Monte Cristo é uma obra dirigida com bastante controle e tendo um ótimo conjunto técnico sendo na criação de época e no trabalho de condução dos personagens. Mesmo sendo um filme que se contém demais e não tenta se mostrar realmente de onde vem, consegue executar uma narrativa calorosa e aconchegante para a maioria dos espectadores. Uma obra sobre vingança e justiça feita de forma delicada, mas delicada demais para seres pouco, ou nada, delicados. 


TEXTO DE ADRIANO JABBOUR



Mia – Ela não é mais sua

Mia | RAI Cinema


Estreando no Brasil pelo Festival de Cinema Italiano, Mia (2023), de Ivano de Matteo, nos apresenta a história da desestruturação gradual de uma família inicialmente feliz e saudável a partir do momento em que sua filha de 15 anos cai vítima de um relacionamento abusivo com um rapaz mais velho.

 Greta Gasbarri debuta no cinema interpretando espetacularmente a personagem Mia, uma adolescente feliz e amada pelos pais e amigos, que gosta de expressar sua personalidade com suas roupas e maquiagens, é peça fundamental em seu time de vôlei no colégio e finge esquecer de avisar aos pais quando vai chegar tarde em casa depois de sair para se divertir com seus amigos para esbanjar sua crescente independência.

 Mas sua cativante e ativa personalidade começa a degradar depois que ela cai nos encantos de Marco (Riccardo Mandolini), um rapaz que apesar de maduro, se mostra agressivo e manipulador, fazendo Mia acreditar que tem culpa dos ciúmes e insatisfações que o rapaz sente. Aos poucos ele a faz desgostar de tudo que ama. Diz que sua maquiagem e roupas são indecentes, diz que as amigas dela são putas e má influência, a impede de voltar ao vôlei pois erroneamente pensa que o professor de Mia se interessa por ela. Mas como na maioria dos relacionamentos abusivos e em parte pela inocência de Mia, ela não é capaz de entender que está refém do rapaz que pensa que ama, e não consegue cortar o mal pela raiz, culpando a si mesma pela própria mudança de humor.

 De repente Mia está mudada, e como o filme muito inteligentemente nos mostra com inserções de vídeos caseiros e fotografias de infância, seus pais, mas principalmente o pai Sergio, não aceita a mudança e se vê impotente ao não compreender como pode ajudar sua filha a voltar a ser feliz. Em uma cena que mostra um show de atuação de Edoardo Leo, o pai diz em prantos que só o que ele deseja é que sua filha volte a se maquiar demais, gastar dinheiro com mais e mais roupas, e que não os avisem onde está quando sai para se divertir, pois por culpa daquele rapaz, naquele momento, os pais de Mia haviam perdido a sua filha, e diferentemente do que veríamos em um Blockbuster americano, que no mesmo tipo de proposta de enredo o bravo pai se arma e cai em fúria contra deus e o mundo para proteger sua filha, vemos aqui uma situação mais crua e triste dessa história, em que a realidade oprime aquela família, que desmorona vítima da incapacidade de se defender em razão de tudo o que os aconteceu.

Mesmo que atualmente não entrem em evidência nem se debatam mais e existência de movimentos cinematográficos, gosto de acreditar que cada país herdou em sua cultura e em sua forma de construção de filmes, elementos dos movimentos mais expressivos de suas nações, e a escolha de tratar essa história como uma realidade dura não foge de ser um neto de uma identidade neorrealista italiana.

Apesar de algumas escolhas narrativas e autorais do diretor que se arriscam em eventos dramáticos que tendem a cair em uma concepção de pieguice, apenas por falta de mais tempo de desenvolvimento de personagens, Mia acerta onde mais dói e consegue nos agarrar emocionalmente em sua trama. Nada assusta mais do que perder a conexão com os familiares que nós amamos, nesse caso e talvez o mais extremo de todos, com a própria filha, principalmente por algo alheio a nós mesmos. Ao longo do filme nós nos enfurecemos, nos angustiamos e nos entristecemos juntos com Sergio, e damos razão a tudo o que esse homem faz para proteger e vingar sua filha Mia, e não há nada mais poderoso do que uma obra que nos faça querer levantar de nossas cadeiras e agir junto de seus personagens.

Autor:


Henrique Linhales, licenciado em Cinema pela Universidade da Beira Interior - Covilhã, Portugal. Diretor e Roteirista de 6 curta-metragens com seleções e premiações internacionais. Eterno pesquisador e amante do cinema.

Moana 2 - Disney apostando em sequências

Moana 2 | Disney


Três anos após os eventos do primeiro filme, Moana recebe um chamado inesperado de seus ancestrais guias e forma sua própria tripulação, reunindo-se com seu amigo, o semideus Maui. Enquanto eles viajam para os mares distantes da Oceania para quebrar a maldição do deus das tempestades Nalo na ilha escondida de Motufetu, que antes conectava o povo do oceano, eles enfrentam velhos e novos inimigos, incluindo os Kakamora e a deusa do submundo Matangi.

No filme anterior, Moana, uma jovem polinésia embarcava em uma jornada para salvar sua ilha e restaurar o coração de Te Fiti, perdido há muito tempo. Ao longo dessa jornada, enfrentou grandes desafios e, por meio deles, descobriu sua verdadeira coragem e identidade. Agora, em sua nova aventura, Moana já é mais experiente e madura. Após viver a experiência de liderança em sua ilha e compreender o valor de suas tradições e do mar, ela ganha confiança em suas habilidades e em seu destino. Ao receber um chamado inesperado de seus ancestrais, Moana se prepara para enfrentar os mares distantes, agora com a sabedoria de quem já enfrentou seus próprios medos. Ela sabe que os perigos são reais e que sua missão pode ser arriscada, mas está disposta a ir até o fim, disposta a arriscar sua vida por uma causa maior que agora compreende profundamente. 

No entanto, ela não embarca sozinha nessa aventura: leva consigo três pessoas de seu povo. Loto, uma engenheira naval especializada em projetar, construir, operar e manter embarcações e estruturas marítimas, como navios e plataformas de petróleo; Kele, um senhor rabugento e o estadista mais velho da comunidade da ilha de Motunui, lar da protagonista, que é responsável pelas plantações de vegetais; e Moni, o contador de histórias, navegador, minerador e fã número 1 de Maui. Os novos personagens coadjuvantes introduzidos na história de Moana trazem uma dinâmica interessante e complementar à protagonista. Inicialmente, essa dinâmica complica a vida da heroína, pois os companheiros não levavam a sério o trabalho que deveriam realizar. Embora isso possa incomodar o espectador, é de se esperar que, os personagens se entendam e saibam trabalhar juntos, superando as diferenças iniciais.

Maui continua a exibir o mesmo carisma do primeiro filme, com seu humor egocêntrico e irreverente, sempre pronto para soltar uma piada ou exibir sua confiança excessiva. No entanto, nesta nova jornada, é evidente que ele está muito mais maduro do que no passado. O personagem, embora ainda mantenha seu lado brincalhão e egocêntrico, demonstra uma maior compreensão sobre o impacto de suas ações e um senso de responsabilidade que antes parecia distante. Ele agora tem plena consciência do papel que desempenha não apenas na sua própria história, mas também na vida de Moana e no equilíbrio do mundo ao seu redor. Essa evolução do personagem traz um equilíbrio interessante entre o humor que cativou o público e a complexidade que faz com que o público enxergue uma nova faceta de Maui, agora mais consciente de seu papel no mundo.

As músicas de Moana 2 mantêm a mesma qualidade da primeira produção, continuando a capturar a essência emocional e cultural do filme original. Analise como as composições, tanto em termos de melodia quanto de letra, conseguem transportar o público para o universo mágico e vibrante do Pacífico, ao mesmo tempo em que trazem novos elementos que enriquecem a narrativa. Uma das minhas favoritas é a Só Vai, uma canção energética e contagiante, caracterizada por uma mistura de elementos pop com influências de ritmos latinos e tropicais. Com uma batida dançante e cativante, a música transmite uma sensação de liberdade e de celebração. 

A letra fala sobre seguir em frente, confiar no próprio caminho e abraçar as oportunidades que surgem, transmitindo uma mensagem positiva de otimismo e empoderamento. A voz de Lara Suleiman é poderosa e emotiva, adicionando profundidade à canção, enquanto os arranjos musicais dão um toque moderno e vibrante. Além é uma canção emocionante e inspiradora, com uma mensagem de superação, esperança e coragem. Com uma melodia suave e crescente, a música traz um tom de reflexão e crescimento pessoal. A letra fala sobre explorar novos horizontes e buscar além do que os olhos podem ver, transmitindo a ideia de que o verdadeiro potencial está nas escolhas e na coragem de se aventurar. A voz de Any Gabrielly é delicada, mas cheia de emoção, adicionando profundidade à mensagem da canção. Com um arranjo musical que combina elementos clássicos e modernos, sendo uma composição que une suavidade e poder, onde o tema de auto-descoberta e crescimento é central.

Eu admito que estava com o pé atrás em relação ao filme, justamente por ser uma continuação. Isso porque a Disney nem sempre é bem-sucedida ao entregar sequências. Não estou nem incluindo os filmes da Pixar Animation Studios, mas é claro que há exceções, como Rei Leão 2: O Reino de Simba, Irmão Urso 2 e até mesmo 101 Dálmatas 2: A Aventura de Patch em Londres. Vale destacar que esses exemplos foram lançados diretamente em home video e DVD. No entanto, aqui, eles conseguiram entregar uma sequência de qualidade. É bem provável que o filme seja um sucesso de bilheteira, garantindo assim um terceiro filme e expandindo ainda mais esse universo.

Moana 2 supera as expectativas de uma sequência, trazendo um enredo envolvente com personagens mais maduros, uma dinâmica interessante entre a tripulação e músicas cativantes. A evolução de Moana e Maui, juntamente com novos desafios e lições de coragem, faz o filme brilhar. O futuro da franquia parece promissor, com potencial para mais aventuras.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator em formação e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.


Telefone Preto 2 - Do Suspense Psicológico para a Hora do Pesadelo

Telefone Preto 2 | Universal Pictures Pesadelos assombram Gwen, de 15 anos, enquanto ela recebe chamadas do telefone preto e tem visões pert...