sexta-feira, 4 de julho de 2025

Jurassic World: Recomeço - Recomeço? Parece Mais um Replay Mal Programado

Jurassic World: Recomeço | Universal Pictures

Agentes habilidosos são enviados a uma instalação de pesquisa em uma ilha para recuperar DNA capaz de salvar espécies de dinossauros. Conforme a missão ultrassecreta se torna cada vez mais perigosa, eles acabam descobrindo um segredo sinistro que tem sido escondido do mundo por décadas.

A consagrada saga Jurassic Park deveria ter terminado no terceiro filme. Porém, buscando lucrar com a nostalgia, lançaram Jurassic World em 2015. O filme até consegue ser divertido e traz uma ideia interessante, mas sua execução deixa a desejar. Em 2018, veio a continuação, que, sinceramente, não me agradou. Já em 2022, foi lançado o terceiro filme dessa nova trilogia, que eu, honestamente, odiei — conseguiu ser o pior da franquia. E agora, em 2025, para espremer até a última gota da nostalgia, decidiram lançar mais um filme da franquia. Porque, claro, nada grita “inovação” como mais do mesmo: dinossauros correndo em CGI que já cansam desde os anos 90. Mesmo que a recepção seja negativa, é quase certo que o filme terá um bom desempenho nas bilheterias.

O filme começa em um laboratório, onde tudo dá absurdamente errado por causa de um inocente saco de doces que um funcionário distraído estava comendo — cena digna de Premonição. É aquele tipo de momento que já sinaliza o descuido com a lógica interna da história, uma brecha que poderia ter sido evitada com um mínimo de atenção ao roteiro. A partir daí, o caos é inevitável e se espalha rapidamente, como uma bola de neve desgovernada. Na sequência, o roteiro entra no piloto automático clássico da franquia: um milionário excêntrico aparece com seus planos duvidosos e motivações ambíguas, montando uma expedição que mais parece uma armadilha para os protagonistas. E, claro, não poderia faltar a inserção de crianças — porque, afinal, é um dos clichês mais batidos do gênero, um artifício para aumentar o apelo familiar, mesmo que não faça sentido no contexto da história.

Com a proposta de apresentar animais mutantes, o filme quase não mostra essas criaturas — e, quando aparecem, mal sabem o que fazer com elas. Até a ‘grande ameaça’ da vez, o temido D-Rex, parece ter saído de um brainstorm apressado, servindo apenas como figurante de vilão.

Em 2015, Jurassic World já admitia que o público aparentemente não se interessava mais por dinossauros “puros”, então decidiram inventar híbridos genéticos para tentar reanimar a atenção e o entusiasmo do público. A ideia até tinha potencial para explorar questões éticas sobre manipulação genética e os perigos da ciência descontrolada, mas, no final das contas, serviu apenas como um artifício para criar monstros maiores, mais assustadores e visualmente chamativos. Já em Recomeço, o discurso se repete como uma sombra cansada — o filme tenta se apresentar como uma “reinvenção”, mas acaba tropeçando nas mesmas ideias recicladas. O curioso (ou curioso só para quem presta atenção) é que o tal híbrido que desencadeia toda a confusão da trama foi criado muito antes do parque sequer existir, o que contradiz diretamente tudo que foi estabelecido nos filmes anteriores. Essa desconexão mostra o descuido com a coerência interna da saga e a prioridade clara em criar cenas de ação e monstros para impressionar o público, em vez de construir uma narrativa sólida. Mas, afinal, quem liga para lógica quando se tem um T-Rex estampando o pôster? O que importa é o espetáculo visual e o apelo nostálgico — o resto fica para segundo plano.

Jurassic World: Recomeço parece mais uma tentativa desesperada de lucrar com o que já foi sucesso do que um esforço genuíno de inovar ou respeitar a história que conquistou tantas gerações. Entre furos de roteiro, clichês reciclados e dinossauros mal aproveitados, fica a sensação de que estamos diante de uma franquia que perdeu o rumo — e que talvez já devesse ter ficado no passado, onde seu legado realmente brilha. Mas, enquanto houver nostalgia (e dinheiro) para ser explorado, os dinossauros vão continuar correndo, mesmo que a corrida não faça mais muito sentido.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

terça-feira, 1 de julho de 2025

M3GAN 2.0 - O terror foi embora, mas o caos e o sarcasmo ficaram

M3GAN 2.0 | Universal Pictures



Uma arma robótica de nível militar conhecida como Amelia torna-se cada vez mais autoconsciente e perigosa para a raça humana. Na esperança de detê-la, Gemma decide ressuscitar M3GAN, tornando-a mais rápida, forte e letal.

Diferente do filme anterior, que seguia uma linha mais voltada ao terror psicológico e remetia a produções como Chucky, mas com uma roupagem moderna centrada em uma boneca robótica, M3GAN 2.0 adota uma abordagem mais inclinada à ação. A transição de gênero é evidente desde os primeiros minutos, com uma estrutura narrativa que prioriza cenas dinâmicas, confrontos intensos e uma protagonista ainda mais letal e autônoma. Apesar dessa mudança de tom, o longa não abandona completamente suas raízes. 

Elementos do suspense e do horror tecnológico continuam presentes, especialmente na forma como a inteligência artificial é tratada como uma ameaça imprevisível. A ambientação, por sua vez, permanece no mesmo universo high-tech do primeiro filme, com laboratórios futuristas, dispositivos inteligentes e dilemas éticos sobre o avanço da tecnologia. O longa  pode até trocar o clima de horror por uma narrativa mais explosiva e movimentada, mas ainda carrega, em sua essência, as mesmas provocações sobre o controle da tecnologia e os limites da criação humana. Trata-se, portanto, de uma evolução do conceito original, que busca explorar novos caminhos sem perder totalmente sua identidade.

Dessa vez, a ameaça não vem de M3GAN, mas de uma nova boneca assassina: Amelia, uma criação ainda mais avançada e instável, cuja inteligência artificial representa um perigo iminente para a humanidade. Diante dessa nova ameaça, Gemma, a engenheira responsável por criar M3GAN no primeiro filme, decide reativar sua antiga criação como último recurso. A grande sacada da trama está justamente na maneira como ela reposiciona M3GAN, não mais como vilã principal, mas como uma espécie de anti-heroína. Essa mudança de eixo narrativo dá à personagem camadas mais complexas, promovendo uma dualidade interessante entre o que ela representa como máquina e as emoções quase humanas que demonstra. Longe de ser uma simples repetição do longa original — algo bastante comum em continuações dentro do subgênero slasher — M3GAN 2.0 busca romper com a previsibilidade e expandir sua mitologia de maneira criativa e funcional. A sequência, portanto, não se limita a ser um produto derivado, mas se firma como uma continuação com identidade própria, capaz de abrir espaço para futuras explorações nesse universo tecnológico sombrio.

Mas isso não significa que eu tenha gostado do filme. Pode até ser superior ao seu antecessor em termos de escala e ousadia, mas ainda assim não considero um bom longa. O roteiro, por mais absurdo que seja em diversos momentos, parece existir apenas como uma desculpa para colocar M3GAN no centro das atenções. A trama não se preocupa em desenvolver uma narrativa sólida ou coerente, e sim em criar situações que sirvam de vitrine para a boneca fazer o que o público já espera: instaurar o caos, provocar desconfiança entre os personagens e, claro, roubar a cena com seu carisma sarcástico e seus maneirismos peculiares. Cada aparição de M3GAN é meticulosamente construída para exibir sua personalidade híbrida — ao mesmo tempo ameaçadora e divertida. Seja pelo olhar calculado, pelas falas afiadas ou pelas ações imprevisíveis, ela domina a tela com uma presença quase magnética. O filme sabe disso e aposta tudo nela, deixando o enredo em segundo plano.

M3GAN 2.0 aposta numa abordagem mais voltada para a ação e destaca o carisma da boneca, que continua sendo o principal atrativo do filme. No entanto, o roteiro deixa a desejar, apresentando uma narrativa que prioriza cenas impactantes e momentos de espetáculo, em vez de um desenvolvimento mais sólido dos personagens e da história. Apesar dessas falhas, o longa consegue entreter, especialmente para quem já conhece e gosta da personagem. Ainda assim, fica claro que, embora superior em alguns aspectos ao primeiro filme, M3GAN 2.0 não consegue se firmar como uma sequência memorável ou que realmente expanda o universo de forma consistente.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Elio - Amizade intergaláctica, roteiro meio espacial

Elio | Disney

Elio se vê transportado pela galáxia e é confundido com o embaixador intergaláctico da Terra.

A animação segue a fórmula clássica do estúdio: um personagem pequeno diante de um mundo muito maior. Um exemplo disso é Toy Story, em que Woody e Buzz, sendo brinquedos, precisam se esconder dos humanos para não revelarem sua verdadeira natureza. Em Elio, o protagonista — uma criança — viaja pelo espaço, o que remete a Wall-E, tanto pela grandiosidade do cenário quanto pela jornada solitária do personagem. O filme aborda de forma sensível a solidão do protagonista, uma criança órfã e sem amigos, que encontra no espaço uma forma de escapar de sua realidade. Movido por uma paixão genuína pelo universo, ele tenta se comunicar com formas de vida extraterrestre — os alienígenas — numa busca por conexão e pertencimento. Essa premissa traz uma camada emocional interessante à narrativa, tornando a ficção científica mais humana e tocante.

Elio aposta em uma ideia interessante ao explorar a solidão e o pertencimento através de uma aventura intergaláctica, um tema que sempre desperta a curiosidade do público ao misturar elementos de fantasia com questões humanas universais. O roteiro propõe uma reflexão sobre como nos sentimos sozinhos mesmo quando cercados por outros, e como a busca por conexão pode ultrapassar fronteiras e até mesmo espécies. No entanto, apesar da premissa interessante e do potencial para um desenvolvimento mais profundo, o filme sofre com um desenvolvimento narrativo superficial e apressado, que prejudica o envolvimento do espectador com a história. A construção do Comuniverso, embora visualmente criativa e rica em detalhes gráficos, acaba por não ir além da estética. 

A ambientação, que poderia ser um ponto forte para ampliar a imersão, torna-se um cenário vazio que não contribui significativamente para a construção dos personagens ou para o avanço da trama. Os personagens alienígenas, apesar de terem um design interessante e único, carecem de uma complexidade emocional e motivações claras, tornando difícil para o público se conectar verdadeiramente com eles ou entender as nuances de suas ações. Dessa forma, Elio acaba desperdiçando parte do potencial de sua premissa, entregando uma experiência que, embora divertida e visualmente atraente, não consegue deixar uma marca duradoura na memória do espectador. O filme se apresenta como uma aventura leve e acessível, indicada para quem busca entretenimento descomplicado, mas dificilmente será lembrado por sua profundidade ou originalidade. Com um roteiro mais elaborado e uma exploração mais cuidadosa dos temas centrais, Elio poderia ter sido uma obra muito mais impactante e significativa.

A relação entre Elio e Glordon, apesar de suas diferenças marcantes, evolui gradualmente para um vínculo especial — e literalmente de outro planeta. Desde o primeiro encontro, a interação entre os dois personagens revela uma dinâmica repleta de contrastes, mas também de complementaridades inesperadas. Elio, com sua curiosidade humana e fragilidade emocional, encontra em Glordon, um ser alienígena com uma cultura e comportamento totalmente distintos, um contraponto que instiga o crescimento de ambos. A conexão que se forma entre eles é construída com sensibilidade e leveza. Essa amizade interespécies se desenrola de maneira natural, com pequenos gestos e diálogos que revelam aos poucos o quanto, apesar das diferenças óbvias, há um terreno comum na busca por pertencimento e aceitação. Assim, o filme reforça uma mensagem poderosa e universal: a amizade verdadeira pode florescer mesmo entre seres completamente distintos, superando preconceitos e medos, e criando laços que transcendem mundos e origens.

Elio apresenta uma proposta visual interessante e aborda temas como solidão e amizade, mas seu roteiro superficial limita o impacto emocional da história. Embora a relação entre Elio e Glordon seja sensível e cativante, o filme acaba sendo uma aventura agradável, porém pouco memorável. Com um desenvolvimento mais profundo, poderia ter sido uma obra muito mais significativa.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

Como Treinar o Seu Dragão (2025) - DreamWorks entra na onda do live-action com um ‘copia e cola’ caprichado

Como Treinar o Seu Dragão | DreamWorks


Na acidentada ilha de Berk, um garoto viking chamado Soluço desafia séculos de tradição ao se tornar amigo de um dragão chamado Banguela. No entanto, quando surge uma ameaça ancestral que coloca ambas as espécies em perigo, a amizade de Soluço com Banguela se torna a chave para forjar um novo futuro. Juntos, eles devem navegar pelo delicado caminho rumo à paz, alçando voo além das fronteiras de seus mundos e redefinindo o que significa ser um herói e um líder.

Este é o primeiro live-action da DreamWorks Animation, e sinceramente, não consigo imaginar o estúdio fazendo versões em carne e osso de outras de suas animações. Seria estranho ver uma adaptação de Madagascar, por exemplo. Por outro lado, uma versão live-action de O Caminho para El Dorado seria simplesmente perfeita. Engraçado que, nesse mesmo período, lançaram mais um live-action de uma obra criada pelo Chris Sanders — a outra sendo Lilo & Stitch. Se eu ganhasse um real toda vez que isso acontece, não é muito, mas é cômico que, no mesmo período, tivemos dois! Faz sentido ter uma versão live-action de Como Treinar o Seu Dragão pelo estilo visual relativamente realista e pelo fato de ser protagonizado por humanos. Embora os dragões sejam parte essencial da história, eles podem ser perfeitamente recriados graças ao avançado CGI. Além disso, vendo o sucesso que sua concorrente está fazendo ao transformar suas animações em versões live-action, a DreamWorks não perdeu tempo e apostou em uma adaptação de um dos seus ovos de ouro.


O filme é praticamente uma cópia fiel da animação original, mantendo a mesma história central com poucas alterações nos detalhes. Essas mudanças, embora sutis, tentam dar uma nova cara à narrativa, mas não chegam a transformar a essência da trama. Por exemplo, numa cena importante em que Astrid descobre o segredo de Soluço — que ele está escondendo um dragão — há uma pequena diferença entre as versões. Na animação, Banguela prende Astrid a uma árvore, criando um momento de tensão e humor característicos. Já no live-action, essa mesma cena acontece num penhasco, o que muda um pouco a dinâmica, dando um tom mais dramático e perigoso à situação. São essas pequenas alterações que tentam diferenciar o filme, mas que no geral não escapam do tradicional “copia e cola” da obra original. Mas isso não quer dizer que o filme seja ruim — muito pelo contrário. Mesmo sendo uma reedição do que já vimos na animação de 2010, isso não impediu que eu gostasse da adaptação. Diferente do Rei Leão (2019), que me pareceu um filme sem alma, uma mera cópia e cola, onde os animais, apesar do visual impressionante, não tinham expressões faciais que transmitissem emoções de verdade.


A história comove ao retratar de forma sensível o vínculo que se desenvolve entre Soluço e Banguela. No começo, Soluço é guiado pelo medo e pelos preconceitos enraizados em sua sociedade, mas aos poucos percebe que o dragão não representa perigo — pelo contrário, é uma criatura com sentimentos, tão sensível e solidária quanto qualquer ser humano. Essa mudança representa o crescimento do personagem principal e traz uma crítica sutil à intolerância e à violência sem razão. Ao mostrar o "inimigo" de forma mais humana, o filme provoca uma reflexão sobre o verdadeiro significado de coragem, força e convivência, revelando uma profundidade que vai além da superfície da narrativa.

 

O CGI dos dragões é realmente impressionante. Cada movimento, desde o bater das asas até os pequenos gestos, é cuidadosamente trabalhado para transmitir uma sensação incrível de realismo e personalidade. As texturas das escamas, o brilho nos olhos e as expressões faciais são tão detalhadas que os dragões parecem criaturas verdadeiras, com emoções palpáveis. Banguela, em especial, ganha vida de forma tão convincente que é fácil esquecer que ele é totalmente digital — ele demonstra uma gama completa de sentimentos, desde a travessura até momentos de ternura, trazendo para a tela toda a emoção e carisma que a animação já havia conquistado. Essa qualidade técnica não só impressiona visualmente, mas também fortalece a conexão do público com a história, tornando a experiência muito mais envolvente e memorável.


A essência dos personagens humanos da animação também está muito bem preservada no live-action. Os protagonistas mantêm suas características e personalidades marcantes, o que é fundamental para preservar a conexão emocional que o público já estabeleceu com a história. Mesmo com a transição para atores reais, as nuances de cada personagem são cuidadosamente mantidas — desde as inseguranças e dúvidas de Soluço até a coragem e determinação de Astrid. A química entre o elenco é evidente, trazendo autenticidade às relações que já conhecemos e amamos. Além disso, as motivações e conflitos internos permanecem fiéis ao original, garantindo que a alma da narrativa não se perca na adaptação. Essa fidelidade ajuda a criar uma ponte entre fãs antigos e novos espectadores, fazendo com que a experiência seja genuinamente envolvente para todos.


Como Treinar o Seu Dragão em live-action é uma adaptação que honra a essência da animação original, trazendo à tela uma história familiar com visuais deslumbrantes e personagens bem interpretados. Embora não se arrisque muito, optando por seguir fielmente o roteiro conhecido, o filme se destaca pelo impressionante trabalho do CGI, especialmente na criação dos dragões, e pela química autêntica entre os atores humanos. Para quem é fã da franquia, é uma experiência que reforça o carinho pelos personagens e seu universo; para novos espectadores, uma porta de entrada visualmente rica e emocionante. Talvez não seja uma revolução no gênero, mas é, sem dúvida, uma homenagem digna e encantadora a um dos grandes sucessos da DreamWorks.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

O Grande Golpe do Leste - Uma Sandra Hüller Totalmente Desperdiçada

Um Grande Golpe do Leste | Synapse Distribution

Baseado em uma história real, O Grande Golpe do Leste se passa no final dos anos 1990, após a queda do Muro de Berlim. O filme acompanha a trajetória de Maren (Sandra Hüller), Robert (Max Riemelt) e Volker (Ronald Zehrfeld), que, ao encontrarem um bunker abandonado contendo uma grande quantia em dinheiro, decidem roubá-lo antes que as cédulas percam o valor devido à reunificação da Alemanha. Para isso, contam com o auxílio dos vizinhos do condomínio, que compartilham ideais comunistas, para encontrar um destino para o montante antes que seja tarde demais.

A fotografia de Martin Langer busca retratar com vivacidade o calor do ambiente da antiga Alemanha Oriental, utilizando uma paleta de cores quentes que evoca nostalgia e otimismo. É interessante notar como certos elementos do design de produção e dos figurinos contrastam com esse cenário ensolarado, através do uso de tons pastéis que quebram a monotonia de maneira harmônica e visualmente cinematográfica. Na minha opinião, esse parece ser o maior trunfo do longa.

Contudo, o mesmo não pode ser dito sobre o roteiro e a direção de Natja Brunckhorst. A narrativa se desenvolve de forma rasa, sem grandes picos emocionais, e falha em criar uma atmosfera minimamente envolvente. Mesmo durante as sequências de invasão ao bunker que, embora desprovido de um sistema de segurança eficaz, ainda é vigiado por guardas, o filme não consegue reproduzir a urgência que sequências de assaltos à bancos geralmente causam. Logo, fracassa em se definir como uma película de ação ou comédia, limitando-se a expor apenas os conflitos políticos do período.

Apesar da presença de Sandra Hüller, indicada ao Oscar, a obra não aproveita o talento da atriz, tampouco do restante do elenco, que demonstra potencial e carisma. Isso é particularmente frustrante, pois como sabemos ao menos da capacidade de Hüller, especialmente após sua temporada notável nas premiações, com atuações brilhantes em Anatomia de uma Queda e Zona de Interesse, é nítido que poderíamos ver ela entregar muito mais do que se obteve.

À medida que a trama avança, vemos os protagonistas recorrerem à ajuda dos vizinhos para tentar dar um destino ao dinheiro antes que ele se torne inútil. A partir disso, é organizada uma espécie de "reunião de condomínio", onde revelam a origem das cédulas e dão início a um debate coletivo. Todos, então, decidem colaborar na empreitada.

Essa dinâmica reflete a instabilidade política vivida naquele momento. Em um cenário pós-Guerra Fria, marcado por dificuldades econômicas e altos índices de desemprego, muitos cidadãos perdem a confiança no Estado, que falha em implementar políticas públicas voltadas às classes menos favorecidas. Em O Grande Golpe do Leste, isso é evidenciado pela precariedade das condições de vida e pelo desejo de algumas pessoas em emigrar para regiões mais desenvolvidas, em busca de recomeços. A corrupção também é simbolizada por meio de um político que, ao descobrir o esquema dos protagonistas, opta por se aliar aos moradores do prédio, ilustrando a fragilidade ética que permeava o período.

Em suma, O Grande Golpe do Leste parte de uma premissa instigante, com potencial para explorar temas históricos, sociais e políticos de forma envolvente, mas esbarra em uma execução sem vigor narrativo. Apesar da estética visual cativante e de um elenco talentoso, o filme não consegue alcançar humor, tensão e crítica social de maneira eficaz e a direção também parece não se preocupar com nenhum desses fatores. Fica a sensação de uma oportunidade desperdiçada, que, mesmo tratando de um período turbulento e cheio de nuances da antiga Alemanha, além de possuir uma atriz de alto escalão em seu elenco, opta por uma abordagem morna e tampouco memorável.

Autor:


Meu chamo Leonardo Veloso, sou formado em Administração, mas tenho paixão pelo cinema, a música e o audiovisual. Amante de filmes coming-of-age e distopias. Nas horas vagas sou tecladista. Me dedico à exploração de novas formas de expressão artística. Espero um dia transformar essa paixão em carreira, sempre buscando me aperfeiçoar em diferentes campos criativos.

domingo, 8 de junho de 2025

Bailarina - Elevando o Universo John Wick com Ação e Profundidade

Bailarina - Do Universo de John Wick | Paris Filmes

Ocorrendo durante os eventos de John Wick: Capítulo 3 – Parabellum, Eve Macarro começa seu treinamento nas tradições assassinas dos Ruska Roma.

Esse é o derivado de uma das maiores franquias de ação dos últimos tempos, conhecida por suas sequências intensas, coreografias de combate impecáveis e um universo rico em mitologia de assassinos. A série expandiu seu universo ao explorar novos personagens e culturas dentro desse submundo, oferecendo aos fãs uma experiência ainda mais profunda e emocionante, com histórias que se entrelaçam com o enredo principal e ampliam a mitologia já estabelecida. Isso não apenas reforça a mitologia complexa e fascinante que tornou John Wick um fenômeno, mas também eleva o padrão para futuros spin-offs, mostrando que é possível expandir um universo tão icônico sem perder a qualidade ou o impacto emocional.


Ana de Armas encara o papel mais exigente em termos físicos até agora em sua trajetória profissional. Mais do que apenas força e resistência, o papel demanda um alto nível de preparo corporal aliado a uma presença imponente e convincente em cena. O filme funciona como um verdadeiro palco para destacar a habilidade da atriz em realizar sequências de ação complexas, demonstrando agilidade, técnica e uma resistência impressionante. A atuação física de Ana vai muito além do esforço físico — ela incorpora a essência de uma combatente determinada, entregando uma performance que cativa e convence o público com sua autenticidade e intensidade.


A trama, por sua vez, não pretende ser original: é uma vingança motivada pela perda do pai, algo simples e direto. Esse tipo de narrativa já foi explorado não apenas na franquia John Wick, mas em diversas outras obras. No entanto, clichê não significa necessariamente algo negativo, desde que a história seja bem conduzida. E é justamente nesse ponto que o filme se sobressai, entregando sequências de ação impactantes e uma protagonista que mantém a narrativa firme e envolvente.


No aspecto visual, o longa realmente impressiona e se destaca. A estética neon, que é uma marca registrada da franquia, permeia cada cena, criando um ambiente vibrante e envolvente. Essa escolha visual não apenas reforça a imersão do espectador no universo da narrativa, como também estabelece uma identidade estética única e facilmente reconhecível. O uso consistente dessa paleta de cores contribui para intensificar o clima e a atmosfera do filme, tornando cada enquadramento visualmente impactante e memorável.


Eve Macarro não é uma personagem inabalável ou perfeita; ela enfrenta dificuldades reais, se machuca e tropeça ao longo da jornada. Essa humanização traz uma profundidade rara aos protagonistas desse tipo de filme, tornando-a muito mais autêntica e fácil de se identificar. Ao mostrar suas fragilidades e vulnerabilidades, o personagem ganha uma dimensão mais complexa, fugindo do estereótipo do herói invencível e proporcionando ao público uma conexão emocional mais genuína.


Bailarina consegue expandir com sucesso o universo já consolidado da franquia John Wick, trazendo uma narrativa que, apesar de familiar, ganha vida através de uma execução cuidadosa e personagens bem construídos. A combinação de uma protagonista complexa e humana, interpretada por Ana de Armas em sua melhor forma física e dramática, com um visual marcante e cenas de ação intensas, resulta em uma obra que honra suas raízes ao mesmo tempo em que se estabelece como um título sólido e envolvente por si só. O filme prova que, mesmo dentro de um gênero conhecido e com fórmulas já vistas, é possível entregar uma experiência emocionante e autêntica, capaz de cativar tanto fãs antigos quanto novos espectadores.


Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Lilo & Stitch (2025) - Finalmente a Disney Acertou, Apesar de Alguns Desafios Visuais

Lilo e Stich | Disney

O filme conta a história do vínculo afetivo entre uma garota humana solitária chamada Lilo e um alienígena geneticamente modificado chamado Stitch, criado para ser uma força de destruição. A trama envolve alienígenas em perseguição, assistentes sociais atentos e, sobretudo, a ideia de família como um elo construído, não apenas herdado.

O novo longa-metragem é mais uma tentativa da Disney de revisitar seu catálogo por meio de adaptações em live-action. Desta vez, o estúdio retorna a uma animação lançada nos anos 2000 — um período conhecido como a “Era Experimental” da Disney. Essa fase, compreendida entre o fim do chamado Renascimento (1989–1999) e o início da nova era de sucessos como Enrolados e Frozen, é considerada pela própria Disney como sua segunda era sombria. A primeira, entre 1970 e 1988, foi marcada por obras que deixaram legados afetivos, mas não atingiram o mesmo prestígio comercial e crítico dos clássicos da Era de Ouro.

Durante a Era Experimental, a Disney tentou se afastar da fórmula tradicional que havia consagrado o estúdio nos anos 1990. Investiu em novas linguagens, abordagens visuais diferentes e temas menos convencionais. Ainda que essas apostas tenham sido louváveis do ponto de vista criativo, muitas delas resultaram em bilheterias modestas e recepção crítica dividida. Lilo & Stitch (2002), no entanto, destacou-se como exceção: foi um sucesso de público e crítica, conquistou uma base fiel de fãs e tornou-se uma das marcas mais queridas da empresa nas últimas décadas.

A adaptação em live-action permanece bastante fiel à animação original, preservando os principais elementos que cativaram o público. Como é natural em qualquer transposição, algumas mudanças foram feitas — e, em geral, de maneira cuidadosa e respeitosa. Uma das alterações mais notáveis é a ausência do vilão Gantu, que, embora tivesse papel limitado no filme original (aparecendo mais no início e no final), acabou se tornando um dos antagonistas centrais na série derivada. Confesso que essa ausência me preocupou inicialmente, mas felizmente a narrativa encontrou outras formas de gerar tensão e conflito, sem comprometer a essência emocional e divertida da história. A substituição de Gantu por novos elementos abre espaço para uma abordagem diferente, que explora nuances inéditas dos personagens e do universo de Lilo & Stitch, mantendo seu espírito com uma perspectiva renovada.

Embora o filme apresente sua própria mitologia e elementos de ficção científica, o coração da trama continua sendo emocional, centrado no tema da família. É impossível ignorar a importância de Nani na narrativa — algo já marcante na animação original. Nani é uma verdadeira guerreira: cuida sozinha da irmã caçula, Lilo, enquanto luta para manter um emprego e garantir alguma estabilidade para ambas. Quando assistimos ao filme na infância, é comum enxergá-la como a “irmã chata”, sempre impondo regras e limites. No entanto, ao rever a história com um olhar mais maduro, fica claro que suas ações são movidas por amor, responsabilidade e sacrifício. Nani não está apenas tentando manter a ordem — ela está lutando com todas as forças por um futuro melhor para sua família. Essa profundidade emocional é o que torna Lilo & Stitch tão poderoso e atemporal, tocando diferentes gerações de maneiras distintas.

Um dos pontos que mais gerou expectativa e preocupação antes do lançamento foi o CGI, especialmente em relação ao Stitch. E, felizmente, o resultado surpreendeu positivamente. O personagem foi recriado com um equilíbrio notável entre fidelidade ao design original e adaptação ao realismo do live-action. A textura da pele, os olhos expressivos e a fluidez da movimentação deram vida ao Stitch de forma convincente, sem parecer artificial. O modelo 3D respeita as proporções caricatas do original, mas com um acabamento realista que se encaixa bem no novo ambiente. Além disso, o CGI consegue transmitir emoções com clareza, mantendo intacta a conexão emocional que o personagem sempre proporcionou. Em suma, o visual do Stitch é um dos grandes acertos da produção, demonstrando um cuidado especial em preservar a identidade do personagem sem comprometer a estética live-action.

Por outro lado, o CGI do Jumba e do Pleakley causa certa estranheza à primeira vista, tornando a transição para o live-action visualmente mais desafiadora. No caso de Jumba, sua estrutura corporal robusta e traços exagerados parecem um pouco deslocados no contexto realista do filme. Pleakley, com seu corpo alongado e feições excêntricas, também enfrenta dificuldades na adaptação, resultando em um visual inicialmente destoante. No entanto, à medida que a narrativa avança, essas escolhas visuais se tornam mais aceitáveis. Felizmente, o carisma da dupla permanece intacto: Jumba continua sendo o cientista maluco e impulsivo, enquanto Pleakley conserva seu entusiasmo contagiante pela Terra, quase como um especialista obcecado pelo planeta. Apesar das limitações visuais, a essência dos personagens e a dinâmica entre eles seguem divertidas e reconhecíveis.

Lilo & Stitch consegue respeitar o legado da animação original, mantendo a essência que conquistou o público, ao mesmo tempo em que traz uma nova visão sobre essa história atemporal. A adaptação live-action consegue equilibrar a fidelidade ao material original e a necessidade de atualização, explorando aspectos visuais e narrativos que ampliam a compreensão da trama. Ao longo do filme, a mensagem central sobre a família se fortalece, destacando que o verdadeiro significado de ser uma família vai além do laço sanguíneo: ela é construída por meio de escolhas, amor e dedicação, independentemente de onde você venha ou das circunstâncias. Essa abordagem renovada reforça a universalidade da história e a importância de criar vínculos genuínos, mostrando que, por mais diferentes que sejamos, a conexão humana é o que realmente define a família.

Autor:


Meu nome é João Pedro, sou estudante de Cinema e Audiovisual, ator e crítico cinematográfico. Apaixonado pela sétima arte e pela cultura nerd, dedico meu tempo a explorar e analisar as nuances do cinema e do entretenimento.




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